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PARA O RESGATE DA MEMÓRIA DA CIDADE

( DOS ANOS QUARENTA AOS DIAS ATUAIS )

O Pau Não Cessa

Por - Nelson Oliveira e Silva

Antiga zona do meretrício
 de Floriano
 Fevereiro de 2008

 Apesar do título um tanto estranho, ele tem a sua origem. Nos anos 30, até por volta dos anos 60 / 70, a movimentação do transporte fluvial, no rio Parnaiba, era muito intenso, porque por suas águas sangravam um grande número de vapores e lanchas, rebocando imensas barcaças abarrotadas de marcadorias e passageiros que saíam da Parnaiba e iam até Vitória do Alto Parnaiba ( hoje, Alto Parnaiba ), no Maranhão, fazendo escalas em diversas cidades ribeirinhas, onde deixavam passageiros ou cargas. Por isso, Floriano, por sua estrutura, terminou tornando-se um entreposto, onde as mercadorias destinadas ao centro e sul do Piauí eram desembarcadas aqui e seus proprietários as conduziam em lombo de animais.

Para movimentar essas embarcações era necessário uma acentuada quantidade de homens para mantê-las em pleno funcionamento e por isso, muitas vezes, demoravam vários dias no desembarque dos produtos que traziam. Eles passavam muito tempo embarcados e sempre que chegavam em Floriano, à noite, em suas folgas, dirigiam-se às casas do baixo meretrício, em busca de bebidas e mulheres livres para se divertirem. Alguns sabiam se comportar; outros, execediam-se na bebida e, daí, vinham as discussões, em consequência, as brigas. E isso só acontecia quando muitas embarcações encontravam-se à beira do velho monge.

Diante de tal situação, foi necessária a intervenção da polícia, para acalmar os ânimos, e aí foi que a coisa piorou: as discussões e os conflitos, somente entre eles, na base do murro, e com o surgimento da força policial, aí a batalha campal era entre os marinheiros, chamados também de "porcos d´água" e os defensores da segurança da cidade.

Os fatos eram constantes, porque existiam embarcações no porto e, quando o número aumentava e quando os mais experien tes viam tal situação, sempre vaticinavam: "hoje, o pau não cessa!"

Mas na verdade a divergência era muito grande entre a polícia e os "porcos d´água" que, ao terminarem a bagunça, corriam e penetravam na embarcação, onde se protegiam da perseguição policial. Muitos deles, no dia seguinte, tinham contas a prestar ao comandante, no caso de um vapor, ou ao mestre da barca, que eram pessoas de costumes diferentes dos subalternos.

O Pau Não Cessa, de saudosa memória, ficava localizado num trecho da rua Silva Jardim, a partir da rua Bento Leão e se estendia até onde está situada a futura Praça de Eventos, que está construída sobre o leito do Riacho da On ça, que desembocava no rio Parnaiba, local denominaodo pela molecada da época de Barra da Onça.

No espaço da rua acima citada, entre a rua Bento Leão e a rua Hermando Brandão, ficava o local das festas, que eram realizadas, sempre aos sábados, e era chamado "Baile do Rogério". As mulheres, algumas moravam nas proximidades ou em lugares distantes.

Os mais antigos moradores da nossa Princesa do Sul, nunca dizem na rua Silva Jardim, mas sempre falam: rua do PAU NÃO CESSA!

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