Sobre o homem ao centro desta imagem, fotografado por meu pai em Floriano, Piauí, enquanto se cercava da mulher Maria e dos filhos Joaquim e Jesus, as emoções são complexas e certas.
Por longos períodos de férias que passei naquela cidade durante a infância e a adolescência, meu tio Brasileiro representou um porto seguro alegre e gentil.
Não quero ser triste, nem serei, mas o fato é que hoje mais um pai me deixou sem me deixar.
Pedro Pierre (você leu direito), que teve longa e produtiva existência, cuidou de mim como poucos outros mais. Animou meus primeiros anos, quando eu ocupava a garupa de sua lambreta em Floriano e passeávamos, sabão e toalha em punho, na direção do rio Parnaíba onde íamos “banhar”.
Conversador e orador de ideias só suas, cheio da energia empreendedora que faltava a meu pai, o Walter artista, ele sabia ser ouvido e ouvir. Muito importante, ria dos acontecidos, esses que só ele saberia contornar. (Entendia complicada minha família materna, por exemplo, mas não se complicava, ele próprio, com ela; a última gargalhada pertencia a ele, e assim gostava de seguir).
Era o homem certo pra desatar os nós. Um vendedor de sapatos que se tornara célebre figura conselheira daquela Floriano onde viveu. “Sobrinha de Pedro Pierre?”, me perguntavam pela rua, e as portas se abriam.
Sua mãe, com quem partilhei horas de conversa, tinha um rádio que pegava as estações do mundo inteiro, fascínio de babel naqueles tempos e naquela cidade onde a tevê felizmente tardaria a existir. Criança, ela havia convivido com Maria Bonita, sobre quem guardava muitas histórias.
Seu filho Pierre foi a figura inteira que tanto respeitei e amei.
Querido tio, muito obrigada por tudo e fique em paz.