Ainda era tempo de brincadeiras: de preso, de rodas, de lacoxia, chicote queimado, boca de forno, de papagaio e as férias eram um prato cheio para as nossas traquinagens pelas esquinas das ruas e becos.
Tomar banho de chuva nas bicas das casas nos levavam ao delírio dentro do contexto lírico de um momento em que vivíamos felizes, sem a preocupação com o consumo que os shoppings e os games de hoje nos impõem.
Tudo bem. Além dos filmes do Cine Natal, dos circos de arena no Campo do Artista, dos banhos do Parnaiba e dos passeios e pequeniques que nos envolviam, havia, entretanto, umas das brincadeiras que nos tiravam do sério. Era o tempo dos times de botão. Haviam as disputas entre ruas e times de grande tradição.
O Flamengo de Tiberinho era um timaço: só botão de paletó, bailheiros e lentes com cheiro de talco gessy. Tiberinho era tão piolho, que muitas vezes, quando se interessava por um botão bom, fazia de tudo para comprar e, enquanto você não se decidisse, ele não saía do pé.
Havia os torneios tradicionais, como os da Rua Sete, o campeonato da rua José Coriolano e de outros quintais. Nessa fase romântica, as traves eram feitas de buriti e a bola era uma esfera de bicicleta (capsulana). Havia muita discussão, ninguém queria perder, tinha que ter juiz e tudo. Cada gol era uma vibração total. Quem perdia, saía revoltado e era um tormento mesmo.
Um dos casos mais pitoresco desse período, foi quando Tiberinho botou em cima de um botão bailheiro de Danúnzio (dono do time do Ríver):
- Quer vender?
- Necolino!
- Eu dou o que tu quiser: queijo, maçã, requeijão, uva...
- Nesse caso, vou pensar!
Tiberinho conseguia, enfim, mais uma vez, conquistar mais um craque para o seu antigo Flamenguinho de botão.
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