Essa vasão, poeta, é teu cenário; teu sertão portuário; que te contamina e que te alucina; nessa epopéia de sonhos fraternários.
5/15/2020
5/14/2020
Retratos do nosso futebol
Sinésio do Ferroviario de Floriano
Entre o amor e o desgosto, SINESIO lembra sua passagem pelo futebol
O Diabo Loiro foi um dos grandes nomes do futebol amador de Petrolina-PE. Desgostoso com o esporte, o ex-jogador diz que não vai ao estádio há 30 anos
Fonte: Emerson Rocha/Petrolina-PE
A tristeza com o esporte fez com que Sinésio deletasse da memória os vários gols que marcou. Porém, olhando para a parede de sua casa, é possível ver algumas fotografias da época em que brilhava nos campos petrolinenses. O nome dos antigos companheiros saem com enorme facilidade.
– Eu não lembro dos gols que eu fiz, nem dos títulos. Tem aquele ali (apontado para a fotografia na parede de casa), foi o tricampeonato do América, mas eu já estava jogando em Teresina, mas vim botar a faixa porque eu tinha sido campeão. O que eu lembro é aquele ali, uma época boa, que tinha Rubenílson, Carlos Henrique, Elmo, Bosco, era um timaço.
A cor dos cabelos deu a Sinésio o apelido pelo qual é conhecido até hoje. O batismo foi feito por um antigo narrador esportivo de Petrolina.
– Quem botou o apelido de Diabo Loiro foi Foguinho. Ainda hoje a maioria dos conhecidos meu me chamam desse jeito– diz Sinésio.
– Para não dizer que eu nunca vi meu filho jogando, teve um jogo da Seleção de Petrolina contra o Sport Recife, que os caras pelejaram para eu ir. Terminei indo, parece que foi 1 a 1 o jogo. Não aguentei ficar até o final, no segundo tempo fui embora. Perdi o gosto – afirma o Diabo Loiro.
Sinésio conta que só acompanha o futebol pela TV. Em relação a atual situação do esporte petrolinense, o ex-jogador do Caiano não vê com bons olhos.
– Eu não tinha nenhuma lembrança, me desgostei. Mas, agora que cheguei na idade, resolvi botar esses retratos, para quando eu morrer, os bisnetos saberem – conclui o Diabo Loiro.
Dentro de campo, o Diabo Loiro infernizava as defesas, mas não tinha posição definida nas quatro linhas.
– Naquela época não existia o 4-2-4, mas a gente já fazia o 4-3-3. Eu estava na defesa, jogava como ponteiro esquerdo, como centroavante e voltava. Todo mundo jogava, não é que nem hoje. Está vendo a Seleção como está? Naquele tempo tinha futebol.
Sinésio jogou bola até 1975. O Diabo Loiro ainda teve algumas passagens como treinador, mas a experiência só serviu para aumentar as mágoas que carrega do esporte.
– Teve uma época que eu treinava o América, era final. No dia do jogo, era a última partida, Palmeiras e América, aí nós estávamos quase na hora do jogo, já nos preparando para ir para o campo, quando o presidente do América trouxe Geraldo Olinda para treinar o time. Aquilo para mim foi mesmo que dar uma facada no meu peito. Eu estava treinando o time e na última hora de botar o time em campo o cara chega com outro treinador – lembra Sinésio.
Bastante chateado, Sinésio nem assistiu ao jogo. Saiu do estádio e ficou pela rua. No final da partida, sabendo do resultado, ele lavou a alma.
– Eu não vim nem em casa. Fiquei desgostoso pela rua. Eu disse que iam perder o jogo. O Palmeiras ganhou de 1 a 0. Essas coisas assim que aconteceram eu nem gosto de falar.
Desde quando largou o futebol, Sinésio garante que não pisou mais no estádio de Petrolina. Em 30 anos, a exceção só foi quebrada em uma única vez, dada a insistência de amigos e vizinhos. Na ocasião, o ex-jogador foi ver o filho atuar pela Seleção de Petrolina.
Parte das lembranças que Sinésio guarda do futebol estão na parede de casa (Foto: Emerson Rocha)
Sinésio conta que só acompanha o futebol pela TV. Em relação a atual situação do esporte petrolinense, o ex-jogador do Caiano não vê com bons olhos.
– O futebol de Petrolina não tem um patrocínio, não tem nada, manda buscar jogador fora. Você vê Salgueiro, que a vista de Petrolina é uma cidade pequena, mas com um futebol que representa bem.
Mesmo com o desgosto que tomou pelo futebol de Petrolina, Sinésio deve ser lembrado por tudo que fez dentro de campo. O Diabo Loiro fez gols, ganhou títulos, fez amigos, sofreu nas mãos de dirigentes. Parte desse passado, que ele as vezes prefere não contar, hoje está na parede de sua casa, em cinco ou seis fotografias.
Fonte: globo esporte.com
Que maravilha essa lembrança que você nos brinda, com o jogador Sinésio, que atuou pelo ferroviário da nossa terrinha nos anos de 1966, quando o ferrim estava no auge.
Lembro da primeira vez que ele atuou nos gramados de Floriano, foi exatamente defendendo as cores do América de Petrolina/PE, oportunidade em aplicou uma sonora goleada ao nosso escrete.
O time do América, além de Sinésio, tinha um jogador chamado Domício, cuja potência nos chutes, assustara JOÃO MARTINS, goleiro do ferroviário, naquela partida.
Posteriormente, o Diabo Louro veio jogar no ferrim, ajudando na conquista de glória para o futebol florianense.
Belas lembranças.
Obrigado amigo
5/11/2020
Retratos de Floriano
Retratos de Floriano
Instituto Santa Teresinha.
www.portaldefloriano.blogspot.com
Em 1936 existia, em Floriano, o Instituto Santa Teresinha, sob orientação do professor Zezinho Vasconcelos. Nos anos de 1938, o então promotor público e inesquecível doutor Manoel Sobral Neto - educador de gerações - comprou o citado instituto e nos anos quarenta criou, então, com o nome de Ginásio Santa Teresinha, o curso ginasial de Floriano.
Essa escola formou, com sua disciplina espartana e seu ensino de alto nível, centenas de jovens de Floriano e de toda a região do sul do Piauí e Maranhão.
Ficou famosa a expressão " fulano de tal estudou no Santa Teresinha... " Esse educandário fazia uma educação voltada para a formação intelectual do aluno sem esquecer, contudo, a formação moral e artística.
Quantos não se lembram do professor de francês doutor Teodoro Sobral, do professor de latim padre Pedro, da inesqucível Moema Frejat e Quelita Frejat, da professora de artes aplicadas Raimunda Carvalho, Maria Hermínia Rocha e tantos outros.
Mais tarde, o ginásio, com a ida do doutor Sobral Neto para Brasília, ele foi vendido para a professora Adélia Waquim, Ivan Carneiro, Padre Almeida e assim ficou muitos anos. Esta escola de formação foi uma das páginas de ouro de Floriano.
Seu nome está gravado em ouro no coração de Floriano: " vem santinha, iluminar nossa esperança / Teresinha, lá do céu junto ao trono de Deus... " Esse era o estribilho do seu hino, que ainda hoje emociona. Vale a pena sentir saudade dessa escola.
Fonte: flagrantes de uma cidade / Luiz Paulo
J
5/10/2020
Retratos do nosso futebol
TIME DO BRASIL |
AMISTOSO EM CANTO DO BURITI
O nosso amigo Luiz Armando Bucar, hoje residindo na cidade de Fortaleza, foi que nos proporcionou essa fotografia (rarísisima) de uma partida realizada pelo time do BRASIL na cidade de Canto do Buriti há 56 anos atrás.
O BRASIL levou suas melhores peças à época dando um show de bola dentro das quatro linhas. A movimentação era intensa ao ponto do fotógrafo Leuter Epaminondas ter sido contratado para editar essa bela relíquia do nosso futebol.
Valdivino e Puluca |
Agachados, vê-se o Reginaldo, o Rafael, Romulo, Osmar e José Ponciano. Não tinha pra ninguém e o resultado foi aquela festa com mitas resenhas regadas a churrascos e outros drinks.
DEPOIMENTO DE LUIZ ARMANDO BUCAR SOBRE ESTA JORNADA ESPORTIVA EM CANTO DO BURITI HÁ 56 ANOS ATRÁS:
"Esta foto aí foi feita em Canto do Buriti pelo Epaminondas.
Em pé : Clemilton, Valdevino, Antonio José Sales, José Henrique, Brahim, Luiz Armando e o Iglesias.
Agachados: Reginaldo , Rafael, Rômulo, Osmar e José Ponciano.
Estes grupos eram encabecados pelo João Carlos, Rafael, João Alfredo e outros conterrâneos.
Então o time de futebol de Floriano jogava a tarde contra o time da cidade e a noite havia a festa dançante com a presença da Miss Piauí desfilando e o congraçamento entre as cidades.
Em 1964 a Maricildes Costa foi eleita a primeira Miss Piauí de Floriano.
A empolgação era muito grande e ela foi conduzida a desfilar em algumas cidades.
Quando a Maricildes ia a cidade de Floriano mandava um grupo de florianenses e alguns atletas de fora que moravam em Floriano.
Esta foto aí foi em Canto do Buriti.
Tivemos também uma excelente viagem a Amarante com um grande jogo e uma festa bonita no Clube de Amarante que foi até ao amanhecer e ainda saímos dançando e cantando pela rua principal até uma casa de um amarantino para o café da manhã com o dia claro.
O jogo não terminou.
O Juiz era o Ibraim Borabi.
O time de Floriano fez 1 a zero e aí a torcida começou a fazer pressão em cima do Juiz.
A torcida entrava no campo atrapalhando o jogo até que numa dessas entradas em campo tomaram o apito do Juiz.
O cara que entrou era um elemento sem classificação.
Toda hora que um jogador de Floriano tocava na bola o Juiz marcava falta.
De falta o time da cidade fez um gol e nós começamos a conversar até vimos que o jogo estava sendo tomado e nos reunimos e saímos do campo . 1 x 1.
Gol tomado pelo "Juiz".
Eu não ia nem jogar.
Quando chegamos em Canto do Buriti só tinham 10 .
Aí me colocou de lateral esquerda.
O Iglezias como não sabia pegar na bola ficou como roupeiro.
DEPOIMENTO DE RAFAEL RIBEIRO GONÇALVES SOBRE ESTE JOGO:
Foto: Do acervo de Luiz Armando Bucar (Fortaleza)
5/09/2020
JOÃO Martins, o acrobata do gol
JOÃO Martins, estilista e lírico com os seus vôos elásticos defendendo, principalmente, as cores do time do Ferroviários nos anos de 1960.
Jogou, ainda, por várias equipes do futebol local, consagrando-se e ganhando vários troféus.
Morava no bairro Manguinha, onde recebia os amigos e os apaixonados pelo futebol para as resenhas desportivas em geal.
Precisamos homenagear o pessoal do esporte e, principalmente, buscar subsídios para alavancar o nosso futebol que, naquele tempo, exaltava a Princesa do Sul com a presença dos nossos craques do passado, como foi o nosso amigo João Martins, que partiu para a eternidade antes do combinado.
Floriano, hoje, carece dessa pureza e arte do futebol, que deram lugar pra consumo de pancadoes e outras festas gratuitas de consumo.
5/07/2020
O fascínio do Cine Natal
Fonte: Paulo Rios Ribeiro
Nascido e criado nas margens do outrora imponente Rio Parnaíba, na divisa entre Barão de Grajaú (MA) e Floriano (PI), relembro-me com saudade da minha inserção e predileção pela “sétima arte”, esta centenária denominação criada pelo italiano Ricciotto Canuto em 1912.
Camaradas, desde a minha inserção na diretoria da cinqüentenária Associação Florianense dos Estudantes Secundaristas (AFES) em 1977, quando nossa entidade, através da "Polícia Estudantil", ficou com a incumbência de “fiscalizar” e garantir o direito dos estudantes florianenses de usufruir o benefício da meia-entrada no também cinqüentenário Cine Natal, ali, ao lado do antigo Supermercado Triunfo, na Avenida Getúlio Vargas.
Tempos imemoriais que marcaram profundamente a nossa adolescência e a amizade perene, nas matinês com muito kung-fu, faroeste e, para os maiores de idade, muita pornochanchada, gêneros cinematográficos típicos dessa época.
O Cine Natal, sem dúvida alguma, tornou-se a melhor experiência cultural para nós, estudantes do também cinqüentenário “Colégio Estadual Osvaldo da Costa e Silva”, do “Colégio Industrial São Francisco de Assis”, dentre outras escolas florianenses. Destas escolas, onde estudávamos, saíamos em bandos na direção do cinema para curtir os filmes em cartazes e, no meu caso, descia celeremente a Rua Castro Alves, ansioso para chegar.
Muitos camaradas queridos, cuja amizade prezo até os dias de hoje, vivenciaram essa experiência única ao ter acesso à cultura e ao entretenimento numa cidade considerada, naquela época, como a terceira mais importante do estado do Piauí.
Reverencio aqui os meus “conspiradores” do BAPA (jornal publicado no segundo ano do 2º Grau, em 1978) veículo provocativo e crítico no contexto do final dos anos 70 em Floriano. Dentre eles, Pinto Neto, Bodão, Astrobaldo, Edom e tantos outros queridos e saudosos amigos.
O fato é que essa experiência cinematográfica numa cidade do interior do Nordeste brasileiro marcou todos nós que vivemos essa época, época da distensão lenta, gradual e segura, oferecida por Geisel e pela transição que se inicia em 1979, sob o jugo de Figueiredo. Para nós, um ano mágico, quando chegávamos à conclusão do segundo grau, nos despedíamos do velho Cine Natal e vislumbrávamos o futuro, de olho na universidade, conscientes de todos os enormes desafios que haveríamos de enfrentar.
Camaradas, pretendo, paulatinamente, oferecer algumas dicas cinematográficas neste espaço virtual de modo que eu possa – humildemente – contribuir com o debate sobre inúmeras questões e temas fundamentais para que possamos compreender melhor o mundo e a humanidade através de películas de primeira grandeza.
5/05/2020
Retratos de Floriano
CHUVA!
Djalma Silva ( o professor e suas memórias )
O inverno ia geralmente de dezembro a abril. As chuvas amiudadas ou intermitentes caindo, correndo pelas bicas e biqueiras das casas, encharcando a areia grossa das ruas ou fazendo lama nos terrenos compactos. Nas ruas em declive aconteciam as enxurradas, onde os meninos soltos brincavam. Os vegetais vivificados, estuantes de seiva.
Mas chegava o mês de maio. Os noturnos tinham-se ido. O tempo agora era claro. Bonito. Árvores e ervas floridas, alegrando os campos. No firmamento azulado, núvens leves e brancas como flocos de algodão. No primeiro dia nos tempos recuados de minha infância, as janelas amanheciam enfloradas. Um costume muito bonito, muito agradável, muito gentil, que foi desaparecendo com o passar dos anos. Irrompiam os ventos gerais.
Era então a chegada à época de empinar papagaios ( pipa ). E de dia os céus se estrelavam de várias cores e tipos.
A temperatura amena, à noite, ia até julho. Chega agosto e, então, era, como disse Veras de Holanda: "TRINTA E DOIS, o sol dardeja e queima. O sol fuzila. Num bárbaro calor que as almas aniquila."
Setembro era a mesma coisa. A quentura torrando a vegetação, secando as flores e pondo modorra nas pessoas e nos animais. Mas vinha a chuva dos cajús. As florescências dos cajueiros se transformavam em frutos. E estes logo amadureciam, pintalgando as árvores de amarelo e vermelho. Uma beleza. Nos domingos, muita gente e principalmente muitomenino ia para os matos buscar cajús e brincar.
A partir de outubro, trovões e relâmpagos a par de algumas precipitaçõies pluviosas, punham no povo as esperanças de um bom inverno, de fartura, de bem estar.
Se em vez disso o céu continuava profundamente azul, isento de núvens pronunciadoras de chuvas, o vento balançando as copas das árvores, sibilando nos telhados sem forro nas casas, arrepiando a cobertura das palhoças e varrendo o chão, levantando núvens de poeira, o povo começava a preocupar-se.
Nos encontros de ruas, na conversa das varandas ou nas portas das casas à noite, a tônica era uma só. O prolongado verão e a expectativa de dificuldades e até de fome.
No silêncio das alcovas as famílias oravam implorando a proteção dos seus santos. Nos subúrbios a gente humilde, em procissão, saía à tardinha pelos matos com garrafas de água na cabeça rogando a Deus nos seus cânticos:
Chuva! Chuva!. Chuva com abundância!
Notas explicativas sobre o texto
Com respeito aos papagaios, ou pipas, que eram empinados, o palco era a praça da Igreja – hoje, Sebastião Martins, pelo espaço que possuía uma vasta área, visto que ali só existia mesmo a nossa catedral e se tornava palco dos mais variados tipos de papagaios / pipas e terminava se transformando numa grande festa promovida pelos jovens da época.
Dependendo da condição financeira dos empinadores , existiam papagaios / pipas de vários tamanhos e cores, embelezando os céus da cidade. Os instrumentos eram fabricados com pedaços de buriti e papel de seda com tamanho de um metro de altura por um de largura e o seu fabricante era um filho do senhor Celino Miranda, que residia nas proximidades da Igreja Batista, mais precisamente onde está o consultório do doutor Odilon e que atendia pelo apelido “ barata descascada “ em virtude de sua pele muito branca.
Como naquele tempo, a criança e o jovem pela educação que recebiam dos pais, tinham ciência dos seus limites e não eram contaminados pela modernidade do mundo de hoje e o papagaio / pipa era, sem dúvida, uma brincadeira sadia que não trazia nenhum prejuízo. Dentre aqueles que tomavam parte da brincadeira, alguns ainda estão no nosso meio, como Chico Pereira e seu irmão Zé Wilson, Fozzi Attem ( in memorian ), Zeca Demes ( residente em Goiás ), Carlos Martins e muitos outros.
O poema intitulado TRINTA E DOIS de autoria de Veras de Holanda, nascido em Caxias, Maranhão, tinha relação com a seca de 32 que assolou o nosso Estado; além de poeta renomado, era professor de vários colégios, inclusive o seu, que era situado na rua Fernando Marques, antes da casa do senhor Abrão Freitas e inspetor de ensino.
Veras de Holanda possuía uma vasta cabeleira, como Castro Alves, era casado com a professora de nome Conceição e salvo engano, era irmã da dona Noeme Melo ( in memorian ), mão do doutor Adelmar, Adevan, Adeval, Aldezita, Fátima e outros.
Fonte: Nelson Oliveira
Djalma Silva ( o professor e suas memórias )
O inverno ia geralmente de dezembro a abril. As chuvas amiudadas ou intermitentes caindo, correndo pelas bicas e biqueiras das casas, encharcando a areia grossa das ruas ou fazendo lama nos terrenos compactos. Nas ruas em declive aconteciam as enxurradas, onde os meninos soltos brincavam. Os vegetais vivificados, estuantes de seiva.
Mas chegava o mês de maio. Os noturnos tinham-se ido. O tempo agora era claro. Bonito. Árvores e ervas floridas, alegrando os campos. No firmamento azulado, núvens leves e brancas como flocos de algodão. No primeiro dia nos tempos recuados de minha infância, as janelas amanheciam enfloradas. Um costume muito bonito, muito agradável, muito gentil, que foi desaparecendo com o passar dos anos. Irrompiam os ventos gerais.
Era então a chegada à época de empinar papagaios ( pipa ). E de dia os céus se estrelavam de várias cores e tipos.
A temperatura amena, à noite, ia até julho. Chega agosto e, então, era, como disse Veras de Holanda: "TRINTA E DOIS, o sol dardeja e queima. O sol fuzila. Num bárbaro calor que as almas aniquila."
Setembro era a mesma coisa. A quentura torrando a vegetação, secando as flores e pondo modorra nas pessoas e nos animais. Mas vinha a chuva dos cajús. As florescências dos cajueiros se transformavam em frutos. E estes logo amadureciam, pintalgando as árvores de amarelo e vermelho. Uma beleza. Nos domingos, muita gente e principalmente muitomenino ia para os matos buscar cajús e brincar.
A partir de outubro, trovões e relâmpagos a par de algumas precipitaçõies pluviosas, punham no povo as esperanças de um bom inverno, de fartura, de bem estar.
Se em vez disso o céu continuava profundamente azul, isento de núvens pronunciadoras de chuvas, o vento balançando as copas das árvores, sibilando nos telhados sem forro nas casas, arrepiando a cobertura das palhoças e varrendo o chão, levantando núvens de poeira, o povo começava a preocupar-se.
Nos encontros de ruas, na conversa das varandas ou nas portas das casas à noite, a tônica era uma só. O prolongado verão e a expectativa de dificuldades e até de fome.
No silêncio das alcovas as famílias oravam implorando a proteção dos seus santos. Nos subúrbios a gente humilde, em procissão, saía à tardinha pelos matos com garrafas de água na cabeça rogando a Deus nos seus cânticos:
Chuva! Chuva!. Chuva com abundância!
Notas explicativas sobre o texto
Com respeito aos papagaios, ou pipas, que eram empinados, o palco era a praça da Igreja – hoje, Sebastião Martins, pelo espaço que possuía uma vasta área, visto que ali só existia mesmo a nossa catedral e se tornava palco dos mais variados tipos de papagaios / pipas e terminava se transformando numa grande festa promovida pelos jovens da época.
Dependendo da condição financeira dos empinadores , existiam papagaios / pipas de vários tamanhos e cores, embelezando os céus da cidade. Os instrumentos eram fabricados com pedaços de buriti e papel de seda com tamanho de um metro de altura por um de largura e o seu fabricante era um filho do senhor Celino Miranda, que residia nas proximidades da Igreja Batista, mais precisamente onde está o consultório do doutor Odilon e que atendia pelo apelido “ barata descascada “ em virtude de sua pele muito branca.
Como naquele tempo, a criança e o jovem pela educação que recebiam dos pais, tinham ciência dos seus limites e não eram contaminados pela modernidade do mundo de hoje e o papagaio / pipa era, sem dúvida, uma brincadeira sadia que não trazia nenhum prejuízo. Dentre aqueles que tomavam parte da brincadeira, alguns ainda estão no nosso meio, como Chico Pereira e seu irmão Zé Wilson, Fozzi Attem ( in memorian ), Zeca Demes ( residente em Goiás ), Carlos Martins e muitos outros.
O poema intitulado TRINTA E DOIS de autoria de Veras de Holanda, nascido em Caxias, Maranhão, tinha relação com a seca de 32 que assolou o nosso Estado; além de poeta renomado, era professor de vários colégios, inclusive o seu, que era situado na rua Fernando Marques, antes da casa do senhor Abrão Freitas e inspetor de ensino.
Veras de Holanda possuía uma vasta cabeleira, como Castro Alves, era casado com a professora de nome Conceição e salvo engano, era irmã da dona Noeme Melo ( in memorian ), mão do doutor Adelmar, Adevan, Adeval, Aldezita, Fátima e outros.
Fonte: Nelson Oliveira
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