O
Diabo Loiro foi um dos grandes nomes do futebol amador de Petrolina-PE.
Desgostoso com o esporte, o ex-jogador diz que não vai ao estádio há 30
anos
Por Emerson Rocha/Petrolina-PE
Em
1958 a Seleção foi até a Suécia e mostrou ao mundo o verdadeiro
futebol brasileiro. Dentro do time dirigido por Vicente Feola, o
menino Pelé começava a trilhar seu caminho real. No mesmo ano, mas
sem o mesmo glamour, na cidade de Petrolina, no sertão pernambucano,
um menino de cabelo amarelo, cheio de habilidade, iniciava sua
carreira no esporte mais popular do mundo. Sinésio Valeriano Silva
defendeu as camisas do Caiano, América e outros times da cidade,
além de ter defendido uma equipe profissional do Piauí. Como muitos
que jogaram na sua época, não ganhou dinheiro com o esporte. Hoje,
aos 71 anos, deixa escancarada as mágoas que guarda do futebol.
O Diabo Loiro na época em que jogava pelo América de Petrolina (Foto: Emerson Rocha)
–
Do futebol eu nunca arrumei nada.
Naquela época a gente recebia objeto. Jogava por uma bicicleta, uma
geladeira. No Caiano não, lá eu tinha meu salário, porque tinha um
emprego – lembra Sinésio, com certa melancolia.
A
tristeza com o esporte fez com que Sinésio deletasse da memória os
vários gols que marcou. Porém, olhando para a parede de sua casa, é
possível ver algumas fotografias da época em que brilhava nos
campos petrolinenses. O nome dos antigos companheiros saem com enorme
facilidade.
–
Eu não lembro dos gols que eu fiz,
nem dos títulos. Tem aquele ali (apontado para a fotografia na
parede de casa), foi o tricampeonato do América, mas eu já estava
jogando em Teresina, mas vim botar a faixa porque eu tinha sido
campeão. O que eu lembro é aquele ali, uma época boa, que tinha
Rubenílson, Carlos Henrique, Elmo, Bosco, era um timaço.
A
cor dos cabelos deu a Sinésio o apelido pelo qual é conhecido até
hoje. O batismo foi feito por
um antigo narrador esportivo de Petrolina.
–
Quem botou o apelido de Diabo Loiro
foi Foguinho. Ainda hoje a maioria dos conhecidos meu me chamam desse
jeito– diz Sinésio.
O Diabo Loiro hoje (Foto: Emerson Rocha)
Dentro
de campo, o Diabo Loiro infernizava as defesas, mas não tinha
posição definida nas quatro linhas.
–
Naquela época não existia o 4-2-4,
mas a gente já fazia o 4-3-3. Eu estava na defesa, jogava como
ponteiro esquerdo, como centroavante e voltava. Todo mundo jogava,
não é que nem hoje. Está vendo a Seleção como está? Naquele
tempo tinha futebol.
Sinésio
jogou bola até 1975. O Diabo Loiro ainda teve algumas passagens como
treinador, mas a experiência só serviu para aumentar as mágoas que
carrega do esporte.
–
Teve uma época que eu treinava o
América, era final. No dia do jogo, era a última partida, Palmeiras
e América, aí nós estávamos quase na hora do jogo, já nos
preparando para ir para o campo, quando o presidente do América
trouxe Geraldo Olinda para treinar o time. Aquilo para mim foi mesmo
que dar uma facada no meu peito. Eu estava treinando o time e na
última hora de botar o time em campo o cara chega com outro
treinador – lembra Sinésio.
Bastante
chateado, Sinésio nem assistiu ao jogo. Saiu do estádio e ficou
pela rua. No final da partida, sabendo do resultado, ele lavou a
alma.
–
Eu não vim nem em casa. Fiquei
desgostoso pela rua. Eu disse que iam perder o jogo. O Palmeiras
ganhou de 1 a 0. Essas coisas assim que aconteceram eu nem gosto de
falar.
Desde
quando largou o futebol, Sinésio garante que não pisou mais no
estádio de Petrolina. Em 30 anos, a exceção só foi quebrada em
uma única vez, dada a insistência de amigos e vizinhos. Na ocasião,
o ex-jogador foi ver o filho atuar pela Seleção de Petrolina.
Parte das lembranças que Sinésio guarda do futebol estão na parede de casa (Foto: Emerson Rocha)
–
Para não dizer que eu nunca vi meu
filho jogando, teve um jogo da Seleção de Petrolina contra o Sport
Recife, que os caras pelejaram para eu ir. Terminei indo, parece que
foi 1 a 1 o jogo. Não aguentei ficar até o final, no segundo tempo
fui embora. Perdi o gosto – afirma o Diabo Loiro.
Sinésio
conta que só acompanha o futebol pela TV. Em relação a atual
situação do esporte petrolinense, o ex-jogador do Caiano não vê
com bons olhos.
–
O futebol de Petrolina não tem um
patrocínio, não tem nada, manda buscar jogador fora. Você vê
Salgueiro, que a vista de Petrolina é uma cidade pequena, mas com um
futebol que representa bem.
Mesmo
com o desgosto que tomou pelo futebol de Petrolina, Sinésio deve ser
lembrado por tudo que fez dentro de campo. O Diabo Loiro fez gols,
ganhou títulos, fez amigos, sofreu nas mãos de dirigentes. Parte
desse passado, que ele as vezes prefere não contar, hoje está na
parede de sua casa, em cinco ou seis fotografias.
–
Eu não tinha nenhuma lembrança, me
desgostei. Mas, agora que cheguei na idade, resolvi botar esses
retratos, para quando eu morrer, os bisnetos saberem – conclui o
Diabo Loiro.
Fonte: Globo Esporte/Globo.com