RELEMBRANDO
FLORIANENSES DA GEMA
HUGO VITOR GUIMÃES
Hugo Vítor nasceu em 17-11-1898, em
Floriano -PI e faleceu em 16-11-1950, em Fortaleza-CE. Jurista, poeta,
genealogista e historiador.
Era filho de José Fernandes Lima
Guimarães e Maria Eugênia da Costa e Silva Guimarães.
Diplomado pela Faculdade de Direito do
Ceará. Como acadêmico fez parte do Recreio Literário Soriano de Albuquerque.
Foi diretor da revista A
Conquista e como literato e jornalista escreveu para os jornais
literários do Piauí e do Ceará.
Foi redator e chefe de A Semana,
redator de O Nordeste, Correio do Ceará, O Povo, O Estado e Unitário. Foi um
dos fundadores da Sociedade Cearense de Geografia e História. Pertenceu ao
Instituto do Ceará, à Sociedade Geográfica de Cuba e ao Instituto Heráldico
Genealógico de São Paulo.
Floriano Perde um
Grande Filho
Floriano - Piauí. 15
- XII - 1950
Pesquisa: José C. de
Andrade Sobrinho
(Da Associação
Piauiense de Imprensa)
“Hugo Victor
falecido, há algum tempo, em Fortaleza, onde residia, quando atingido aos
albores da sua juventude, já era uma celebração, que sofria o peso de uma
angustiosa situação, num meio de seringalistas, que traficavam com os centros
de exploração de euphorbiaceas e apocyneas (borrachas); altamente cotada no
mercado de Liverpool, os quis, com muito raras e honrosissímas exceções,
fechavam-se neste dilema, de puro materialismo: _ Ganhar dinheiro...
Se um gênero de
notícias interessava ao ativo habitante de Floriano, cidade que florescia,
isolada pelas distâncias: - A alta de preços de borrachas, couros de boi, peles
domésticas, resinas e folhas de jaborandí. E era esse incrível ambiente que
torturava a grande alma de Hugo Vitor, debatendo-se, na sua revolta, contra
esse misero estado mental, que predominava e o fizera, por sua vez, fechar-se nesta
preocupação absorvente: - Sair para viver espiritualmente.
Foi nesse estado de
coisas que cheguei a Floriano, vindo de Teresina, onde havia passados quatro
anos, mantendo assídua convivência com rapazes esforçados e vontadosos que
compunham a turma de estudantes que, então, cursava o velho Liceu Piauiense,
vizinho da casa em que eu trabalhava comerciando. Trazia, na cabeça, uma enorme
coleção de versos encantadores, de poetas vários, e, num dos primeiros
“adjuntos” a que compareci, receitei um belíssimo soneto de que me resultou um
sucesso pelo avesso:
- O moço é poeta... Vejam para que ele
havia de dar...
E, nesse diapasão, a conversa
espalhou-se e passei a ser visto com maus olhos, pela agente da terra, menos
por Hugo Vitor que, no dia seguinte, procurava-me e inquiria:
- Soube que recitou um belo soneto na
festa de ontem!...
- É verdade... Mas... O meu
arrependimento foi completo... Estou desolado... Notei que aqui não se toleram
versos, por melhores que sejam...
- O soneto era da sua lavara?
- Não. Nunca escrevi versos. Era de
Olavo Bilac.
Pediu-me que o recitasse. Recitei. E,
ao terminar, Hugo Vitor agrava-me com efusão, num grande abraço, que era uma
consolação misericordiosa para o meu desapontamento. Queria uma copia do soneto
e o lhe ditei a copia. E, desde então, acamaradamos.
Logo depois, Hugo
Vitor, com a sua imaginação irrequieta, fundou aqui um grêmio literário que,
por sua vez, não escapou à crítica feroz do meio, tanto mais amarga quanto
provinha de quem absolutamente não tinha autoridade para fazê-la, mas não
desanimava.
Mais tarde, perdia a sua digna
genitora, Senhora de excelsas virtudes, o vinha perdendo aos penates, e
arribou, para não mais voltar a sua terra berço. Antes da partida preocupou-me,
narrou as esperanças que o embalavam e aconselhou-me, fraterno:
- Meu amigo, vá se embora daqui. Você
não merece ficar num meio que faz a gente emburrecer...
Não pude tomar o seu conselho e, por
cerca de 1928, fui encontrá-lo em Fortaleza, em dificuldades, que provieram de
inglória luta política no interior do Ceará, sendo, em razão dela, afastados
das funções do cargo federal que exercia e que, mais tarde, recuperou
galhardamente. E contou-me ter sido convidado par a redação de um jornal,
chegado a Maçonaria, bem como a sua resposta decisiva:
- Prefiro morrer de fome, a aceitar o
convite para tal redação,
Era inflexível no
dogma da sua fé. Herdada a excelente formação moral da sua genitora e era, como
ela, católica cem por cento. Uma particularidade o fazia oscilar um tanto, para
uma superstição que o preocupava. E contou-me:
- Dias antes do falecimento da Mamãe,
os pombos, que eu criava, com desvelada carinho, lá em casa, como que tomados
de pânico; voaram e se foram para nunca mais voltar, exceto uma que era, mais
ou menos, a mãe da família e que, examinada, verifiquei ter uma asa quebrada,
por isso que não se fora também.
E relevando comentários que, então
fizera:
- Tia Celé, vai acontecer uma cousa
aqui em casa e não será boa... Os pombos se foram por uma vez...
E, de fato dois ou três dias depois da
estranha deserção, morria a sua querida Mamãe, Dona Maroca, que era
estimadíssima pela população da cidade e ocupava a presidência do Apostolado do
Coração de Jesus.
Em 1934, Hugo Vitor abriu-me as portas
do Colégio da Imaculada Conceição, ótimo educandário em que fizeram estágios as
minhas quatro filha Tancy, Lucy, Jacy e Lisete, que sempre tiveram, da parte
dele, um acolhimento quase paternal, prendendo-me, já agora, por imorredoira
gratidão, que sinto-me no dever de externar.
O brilhante intelectual piauiense era,
como advogado, historiógrafo e jornalista dos melhores, estimadíssimo em
Fortaleza, onde várias vezes prestou relevante colaboração na política
administrativa do Estado, cuja imprensa já pos em relevo a sua atuação como
homem de letras. Portanto, as traços e as particularidades que mal venho
expressando, em um preito de homenagem ao meu saudoso amigo Dr. Hugo Vitor
Guimarães, quero publica-los como o mais humildade acréscimo ao rosário de
lagrimas com que tantas pessoas, de todas as camadas sociais, como eu, formaram
um tumulto que o merecia de verdade (...)”
Fonte: Almanaque do Cariri, 1952