FESTAS RELIGIOSAS
PARA O RESGATE DA MEMÓRIA DA CIDADE
PESQUISA – NELSON OLIVEIRA
TEXTO – DJALMA SILVA
Foi a partir de 1875 que se deu em Floriano a construção da Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara, que sediaria mais tarde a freguesia do mesmo nome. Um templo pequeno e modesto, estilo colonial, que com o passar dos tempos foi se tornando insuficiente e em desarmonia com o desenvolvimento urbano da cidade.
Conheci essa igreja. Nela fui batizado, sendo meu padrinho o padre Lindolfo Uchoa ( 1 ) e madrinha a modista ( 2 ) Joana Pereira. Nela assisti, ainda pequeno, em companhia de minha mãe, novenas, missas e outras solenidades. Nas festas do padroeiro, nesses tempos já bem distantes, faziam-se de arraial com barraquinhas dispostas pela praça ( 3 ) e números de diversões como a “ quebra do pote “, a “ morte do pato “ e outras bastante populares na época.
A imagem colocada em seu altar – mor, no início, não foi a do padroeiro SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA, mas a do APÓSTOLO PEDRO.
A partir de 1922 teve começo a ereção do novo templo. O atual, grande, moderno e belo, logo atrás do primitivo. A construção prolongou-se até o princípio dos anos trinta, sendo concluído e inaugurado pelo Padre Gastão Pereira. Contribuíram para o seu término católicos e protestantes ( 4 ), estes, não obstantes à época de radicalismo religioso: e aos que doaram quantia igual ou superior a cinco mil réis foi facultado assinarem o livro de ATA da inauguração.
Na nova igreja PEDRO APÓSTOLO continuou reinando por algum tempo, após passar por uma reforma que lhe deixou rubras as mãos. Finalmente foi substituído pelo verdadeiro patrono, essa imagem lindíssima que todos os que a conhecem e admiram foi oferecida pelo seu João Luiz da Silva ( 5 ).
Recordo aqui as memoráveis festas realizadas na igreja de São Pedro de Alcântara. As do padroeiro, com suas novenas muito concorridas, terminadas com missa solene e procissão pelas mais importantes ruas da cidade. Todas as noites leilões e a EUTERPE FLORIANENSE ( 6 ) tocando no ádrio.
As festas de maio, mês de Maria, dias e dias de novenas, a igreja regurgitando de gente. A partir de certa época, cada estabelecimento de ensino tinha a sua noite em que procurava dar o máximo de seus esforços e de sua criatividade no proporcionar a assistência momentos de beleza e de enlevo espiritual.
As noites patrocinadas pela Escola Normal Municipal de Floriano e pelo Ginásio Santa Teresinha, especialíssimas. Os diretores, as professoras e os alunos de ambos os estabelecimentos se desdobravam em dias de preparo de suas respectivas noites, visando impressionar a todos da melhor forma. Na Escola Normal que dirigi por alguns anos, contávamos, inicialmente, com a colaboração dos esforços e do talento de dois inestimáveis mestres: Fona Filó Soares ( 7 ) e Eleutério Rezende ( 8 ).
Eleutério compunha todo ano um hino para os alunos cantarem. E dona Filó Soares cuidava dos arranjos da igreja, dos ensaios, do acompanhamento dos hinos no órgão e tudo mais que fosse necessário.
A festa de Santa Teresinha do Menino Jesus em que se tornava totalmente sagrada. Trinta dias de peregrinação pelos lares católicos com o pernoite da linda imagem da santa em um deles. E por fim a apoteose do encerramento. Nessas peregrinações a massa de fiéis, de devotos da Virgem de Lesieux, percorria as ruas da cidade cantando ao som de uma orquestra que me recordo em destaque, a flauta do Durvalino ( 9 ).
Porém, as festas religiosas em Floriano do meu tempo não aconteciam apenas na igreja de São Pedro de Alcântara. Tiveram lugar também em vários locais do seu então município. Famosas foram as festas de Nossa Senhora de Nazaré, as do Taboleiro do Mato 9 10 ) e Dois Riachos ( 11 ) e as de Nossa Senhora da Conceição na Manga ( 12 ) promovidas pela família do senhor Beija Freitas.
NOTAS EXPLICATIVAS SOBRE O TEXTO
( 1 ) – que tem seu nome emprestado à Escola Normal;
( 2 ) – era o título dado às mulheres que confeccionavam vestidos e outras roupas femininas e que também eram chamadas de costureiras;
( 3 ) – que se constituía de uma vasta área com capim de burro nativo e arrodeada de frondosas figueiras, devidamente aparadas;
( 4 ) – hoje, denominados de evangélicos e que naquele tempo eram combatidos com um certo radicalismo, por alguns sacerdotes. Nos anos 50 assistimos muitos debates do nosso padre Pedro e o senhor Milad com os americanos doutor Roberto e o doutor Dewey em plena praça, onde cada qual puxava a brasa para o seu espeto com respeito recíprocos;
( 5 ) – a esposa do doador era muito católica e era devota do nosso padroeiro;
( 6 ) – banda de música da UNIÃO ARTÍSTICA OPERÁRIA FLORIANENSE de que se tem saudade;
( 7 ) – mãe da professora Maroquinha, mãe do nosso amigo Cristóvam Augusto e dona Virgínia, esposa do médico doutor Odilon Madeira Coelho;
( 8 ) – grande professor de música em diversos colégios da cidade e cidadão bastante conceituado, salvo engano, pai adotivo do Duzito e que nos anos 40 foi destaque como goleiro do time de nome Ubiratan, formado exclusivamente por estudantes do Ginásio Santa Teresinha e que tinha dentre outros, Zeca Demes, tio do Chico Demes, Luiz Carlos Mouzinho, Everton, Raimundo Avelino, entre outros;
( 9 ) – grande flautista e também um excelente craque de bola, sempre fazendo uso de esmerada técnica;
( 10 ) – que ainda persiste;
( 11 ) – pouco se houve falar;
( 12 ) – ainda continua, tanto do lado do Piauí como do Maranhão.