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Palmeiras de Bucar 1969
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AMOR À VIDA
(Colaboração Chico Kangury)
É DO SEU ZÉ LEONIAS - CHAPÉU "SAVIOUR"!
CHICOLÉ
de Floriano ( grande craque e piolho de bola, o ponteiro esquerdo da
foto quando jogou no Palmeiras de Bucar ) era quem dizia prá gente -
“Vocês sabem muito bem como fui criado, o meu pai foi muito rígido na
criação dos filhos; lá em casa, tinha dia, que quando ele estava
zangado, o único amigo que entrava lá e conseguia sair comigo pra jogar
ChicoKangury de Jerumenha.
Mamãe
gostava muito dele e o seu pai, seu Vicente Kangury era um dos amigos
confidencial do meu pai, e o outro era o senhor Antonio Segundo, grande
enfermeiro, que ajudava até a operar gente no Hospital. Pois bem,
aconteceu de ter um jogo importante em Jerumenha. O papai em casa estava
zangado, eu teria que ir escondido e voltar no mesmo dia. O Deoclecinho
possuía uma caminhoneta e sempre era o encarregado de ir buscar-me e
deixar em Floriano, quando acontecia este impedimento.
Distancia
de Jerumenha para Floriano, 10 léguas e meia ( 67 km ). O Jogo naquela
época começava às três e meia da tarde, porque era para terminar ainda
com a claridade do dia.
A estrada era piçarrada e Deoclecinho
gostava de pisar no acelerador, que se a gente olhasse pro lado via as
arvores curvadas. Saímos de Floriano depois do almoço, só a mamãe sabia
disso. Ao terminar o jogo, o Deoclecinho foi apanhar-me no campo e já
chegou com o seu Zé Leonias de carona pra Floriano.
Ao sairmos de Jerumenha, uma senhora
grávida, com dores de parto, pediu carona também, mas como a caminhoneta
era de cabine simples, educadamente desci e dei o meu lugar para a
senhora, mas o seu Zé Leonias disse, com toda a calma do mundo - “não,
meu filho, não se preocupe, você está cansado, que eu vou na carroceria,
pode deixar”.
Eu ainda ponderei, mas ele não
aceitou e subiu na carroceria da caminhoneta. E o nosso amigo
Deoclecinho saiu rasgando, só fiz o sinal da cruz e pronto. O que se
ouvia era só o gemido da mulher e a preocupação do motorista para que
ela não parisse na beira da estrada.
Quando estávamos passando no Papa –
Pombo, já próximo de Floriano, o seu Zé Leonias de repente bateu na
cabine pedindo parada. O Deoclecinho parou o veículo e perguntou o que
foi, ele desceu e, calmamente, disse: "meu filho, o meu chapéu caiu lá
atrás e eu vou voltar para procurar, pois é muito familiar, não se
preocupe comigo, podem ir embora com a mulher, que chego em Floriano. Ai
entramos num acordo, eu ficava com o seu Zé Leonias e Deoclecinho ia
levar a mulher no hospital e voltava pra buscar a gente.
Quando ele saiu na camioneta, o seu
Leonias disse pra mim: "meu filho, eu tenho amor à minha vida, o chapéu
não caiu, não, eu mesmo joguei fora para ele poder parar e eu descer;
olhe, meu filho, Deus me livre de andar mais com um homem desses.
Pegamos o chapéu e
uma carona em um caminhão e, antes de chegarmos em Floriano, cruzamos
com Deoclecinho, que já ia retornando para Jerumenha.
O
senhor José Leonias era muito tranqüilo, gente boa, esposo da dona
Joana, pai do Tadeu, Neno, Maria José, Budim, Daniel, Mario e muitos
outros. Amigo do senhor Vicente Kangury, Antonio Sobrinho, Antonio
Segundo, Chico Amorim e do meu pai Lourival Xavier.
Moral da resenha: cheguei em Floriano ainda com o tempo de justificar a demora.