TORNEIO DO CAMPO DOS ARTISTAS
Era ainda a época romântica de nosso futebol. Como sempre temos abordado, o campo dos artistas era o palco dos tradicionais campeonatos amadores de Floriano, o qual tinha como pano de fundo um frondoso cajueiro ( foto atual ao lado ), onde agrupavam-se atletas, cartolas, enfim, todos aqueles que de certa forma ajudavam ou atrapalhavam os espetáculos.Pois bem, chegara, então, o dia do torneio início daquela temporada, torneio esse que preambulava o campeonato principal.
Para a realização do evento, o Gusto, dono do Botafogo e seu presidente e, também, como membro da liga organizadora do campeonato, encomendara, ao seu Raimundo Beirão, renomado carpinteiro da cidade ( tratado carinhosamente ( ? ) pela sua digníssima esposa dona Joaquina, de Raimundo Beirada ), as traves que seriam postadas no estádio.
Como combinado, tudo foi feito. Confeccionados os arcos, foram estes cuidadosamente fincados nos extremos do campo, nos seus mínimos detalhes, como exigido nas regras do futebol.
O campo dos artistas estava uma beleza e o dia maravilhoso para a prática do futebol, dado que até São Pedro mandara uma boa rajada de chuva para sedimentar e esfriar o areião.
Dada a magnitude daquele belíssimo espetáculo de futebol, outro não poderia deixar de ser, o árbitro da partida, senão o grande Vicente Xeba.Tabela pronta, times equipados, disputariam a primeira partida o Santos de Cuia e o Botafogo de Gusto, sendo que todas as equipes, como Caiçara, Flamengo de Tiberinho, Ferroviário de Pedro Crente, Fluminense de Fabrício, São Paulo de Carlos Sá e outras já se encontravam equipadas e aquecidas para os embates.
Tudo bem, não fosse o incidente surgido naquela ocasião, em virtude de o dinheiro arrecadado pelo nosso amigo Gusto não ter sido suficiente para ocorrer como pagamento ao artífice Raimundo Beirão.
Ante esse fato, incontinenti, seu Beirão mandou arrancar as traves de volta, não obstante os apelos e as promessas de todos os que ali se encontravam de que a grana não demoraria.
Sem os travessões, restou aos cartolas a discussão sobre a realização ou não do torneio, muito embora soubessem que esta realização, em última instância, seria decidida pelo grande Xeba.
Assim sendo, dirigiram-se todos até o famoso rifirí, sendo que este, de dedo em riste, bradava:
- Num quero nem saber; num quero choro; vai ter jogo; faz as traves de talo de coco; num precisa travessão; num precisa dizer que gol só vale rasteiro!
Dito isso, apitando bem alto e forte, Vicente Xeba adentrou o campo numa corrida cadenciada, em marcha a ré, concitando com as mãos, alternadas, a entrada dos alvinegros ao centro do belo areial.
Em tempo:
Gilberto Lima disse...
Janclerques!
As suas reminiscências sobre a cidade de Floriano, seus logradouros e sua gente nos faz voltar ao passado, e, até parece que foi ontem.
Belas lembranças.
Quem não se lembra das boas "peladas" e competições acirradas no "campo do artista"?
No caso do citado torneio, o grande artífice (marcineiro) Raimundo Beirão e sua esposa Dona Joaquina foram os meus padrinhos de batismo, pessoas amáveis, de quem guardo fraternas recordações.
Abraços.
Gilberto Lima - São Luís-MA