Colaboração – Nelson Oliveira
O título dessa página foi uma prática adotada durante muitas décadas, sempre aos domingos, a partir das sete horas da noite.
O Cine Natal ( foto dos anos de 1940 ) exibia diariamente, em duas
sessões, uma às 18 horas e a outra às 20 horas; e aos domingos às 19
horas, costumeiramente, era iniciado o referido passeio protagonizado
pelas senhoritas da época, da elite, e consistia de inúmeras pessoas de
braços dados, percorriam o espaço compreendido entre a esquina com a rua
Fernando Marques, até onde esteve funcionando, por muitas décadas, o
Supermercado Triunfo e atualmente está estabelecido o AVISTÃO,
especialista na comercialização de calçados, num movimento constante, na
mais perfeita ordem, onde, durante o dito movimento, elas conversavam
entre si, abordando diversos assuntos relativos a cada qual.
Às
20 horas e 30 minutos, momento da segunda sessão do cinema, o movimento
enfraquecia e, às 21 horas, já tinha se extinguido o referido movimento
naquele palco que era constituído de uma ampla calçada de mais ou menos
cinco metros de largura delicadamente mozaicada pelo proprietário do
cinema, o senhor Bento Leão.
Enquanto as belas senhoritas
daquele tempo desfilavam, os pretensos e os namorados, os primeiros,
através de flertes ( o olhar ) com os já namorados, permaneciam à beira
da calçada, esperando as conquistas do momento e das já conquistadas.
Alguns, na hora da segunda sessão do cinema, ingressavam no local para
se deleitarem dos bons filmes da época e os demais, que já tinham
conquistados alguém, saíam em busca da casa da nova conquista.
Aquele local foi sem dúvida nenhuma responsável por muitos romances que
resultaram em felizes casamentos, que apesar da tão falada modernidade
pregada por alguns, ainda persistem em nossa sociedade, com netos e
filhos e até bisnetos, numa demonstração de que o amor, em todos os
tempos, é o mesmo com a diferença de que existiu o respeito recíproco
entre o homem e a mulher, atributos aqueles que atingiam quem vinham
depois; infelizmente, hoje, isso não ocorrem nossa sociedade, onde se
constata inversão de valores com a roda grande querendo passar por
dentro da pequena e se isso acontecer, certamente, veremos Sodoma e
Gomorra renascer.
Felemos também da outra classe social, que se
reunia na calçada defronte. Ali onde é a sede da 5ª Região Fiscal,
também havia ajuntamento por volta dos anos de 1950, de pessoas da
classe operária, sem contudo o clássico passeio.
No prédio
citado, existia a Confeitaria São Jorge de propriedade do senhor Abdias
Pereira, que naquele tempo desempenhava o papel das hoje lanchonetes,
servindo todo tipo de merenda e alguns tipos de bebidas. Aos domingos
com excelente frequência até às nove horas da noite, logo após o início
da sessão de cinema com todos retornando às suas casas ou se dirigindo
para outro local de diversão.
Se não me falha a memória, na
gestão do prefeito Francisco Antão Reis, na década de 1960 houve
melhoramento na praça doutor Sebastião Martins, visando a transferência
para aquele logradouro, daquele movimento em frente ao Cine Natal, que
na verdade se iniciou, entretanto, daquele movimento nunca com
entusiasmo que havia no primeiro e que por isso teve efêmera duração,
apesar da modernidade da praça, onde existia até uma fonte luminosa e de
maior espaço.
Mas é assim, o povo é que é o dono da verdade.