CORRESPONDÊNCIA
Carta de Delmar Mendes dos Reis, de Belo Horizonte para Rafael da Fonseca Rocha, Brasília, datada de 14 de março de 2006.
Prezado Amigo,
Saúde, Paz e Felicidades extensivos à Exma Família.
Inicialmente, agradeço-lhe, uma vez mais, pela oferta que me fez dos livros - “ FLORIANO, de nostálgicas recordações “ e o “ Era uma vez “.
Você
viveu em Floriano, mais tempo do que eu, pois deixei a nossa terra aos
vinte anos de idade, isto é, em 1935, quando fui para Teresina, onde
vivi por oito anos, e em fevereiro de 1944, vim para Minas Gerais – Belo
Horizonte. Em abril desse ano fiz concurso para o Banco Hipotecário, e
em junho a diretoria deste determinou que eu iniciasse a vida bancária em Teófilo Otoni,
cidade onde constituí família dois anos depois, em dezembro de 1946.
Entre esta cidade, Jequitinhonha, Pedra Azul e Resplendor, decorreram
dezoito anos, quando em 1964 fixei residência definitiva em Belo Horizonte,
em decorrência de minha promoção de gerente para inspetor. Nesta função
viajei quase quinze anos, até minha aposentadoria em 1979.
Lendo suas reminiscências no “ Era uma vez
“, em que você, à sombra dos pés de tamarindos, na beira do rio
Parnaíba, transformou-se num nostálgico sonhador do tempo de sua
juventude, recordei-me de quatro pessoas distintas: o velho Zé
Guimarães, sentado em sua cadeira de balanço lendo jornais à sombra de
um frondoso pé de castanheira; do senhor Polidoro, que tinha uma perna
de pau; do intelectual Serafim Gomes neto, o qual periodicamente sofria
das faculdades mentais, e do amigo Eleutério Rezende, atravessando o rio
pé, varejando a sua canoa até Barão de Grajaú.
Eu,
apesar de minha pouca idade, tinha muitas amizades com pessoas de mais
idade, entre estas, cito: Dico Leão, seu tio, que muito me incentivou
para que eu viesse para Minas; Netinho, Amâncio Calland, Milad Kalume (
este escreveu para mim o alfabeto árabe, para eu aprender sua língua ).
Conheci muito seu tio Doca Rocha, cujo bar de sua propriedade foi
vendido para o senhor Calixto Lobo, que entregou a direção do dito bar
para o senhor Moisés Kinahier explorar e servir de ponto de reunião dos “
carcamanos “ nas horas de ociosidade.
No
seu livro “ Floriano “, além de outros assuntos, você fala sobre o
Teatro “ Polyteama “, o qual foi construído em cima do riacho do “ Gato
“, por iniciativa do Cel. Hermano Brandão. Este teatro, além da arte
cênica, funcionou como cinema mudo. Também serviu para bailes à fantasia
nos dias carnavalescos da sociedade florianense.
Sobre
o jantar oferecido ao Tenente-Coronel ( não general ) João Alberto Lins
de Barros, o qual se realizou na residência do senhor Fernando Alves da
Silva, sendo que o piano onde o referido revolucionário dedilhou
algumas peças musicais, pertencia à professora Hercília Barros Camarço.
Como um dos assistentes ao evento através das janelas, fiquei admirado
ao ver um homem tocando piano, eis que, com dez anos de idade, pensava
que somente as pessoas do sexo feminino, tocava referido instrumento
musical.
No
tópico gente, onde você escreveu sobre Zé Caboré e João Guerra, ao
terminar a descrição deste, você começou: duro, até achei que o assunto
ainda era sobre o João, porém, tratava-se do senhor Raimundo Ramos,
farmacêutico prático, marido de dona Mundola.
Com
referência ao poeta Véras de Holanda, cuja esposa era filha do senhor
Anfilófio Melo, rendo-lhe também minhas homenagens, pelo primor de seus
versos, especialmente o poema “ O Trinta e Dois” e o hino “ Minha
Terra”. Infelizmente ele morreu moço, de tuberculose, doença que
perseguia os poetas de antanho.
Você
faz referência, com muita propriedade, o descaso com que são tratados
aqueles artistas, cujos trabalhos foram reconhecidos por outrem, não
merecendo das pessoas ou autoridades de seu torrão natal, nenhum prêmio
ou incentivo pelo serviço executado. Bem diz o ditado: “ ninguém é
profeta em sua terra”.
Os dois prefaciantes dos livros merecem, com certeza, os nossos aplausos, sendo desnecessários maiores comentários.
Terminando, observei que você é um eterno saudosista de sua terra, além de ficionista e sonhador. Continue assim.
Mais uma vez parabéns e obrigado.
Ao seu inteiro dispor, abraços do conterrâneo
Delmar Mendes dos Reis
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