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MEMÓRIA CULTURAL AGREDIDA

Rua São João, hoje calçadão comercial
Um dos mecanismos que a civilização humana tem para o aperfeiçoamento e continuidade de sua existência é a valorização da memória. É através desta atitude que a cultura se fortalece e os valores humanos são ressaltados, garantindo assim plena evolução.

O passado tem forte e decisiva influencia no nosso futuro. Assim, a preservação e difusão da história possuem importância estratégica neste processo. Porem, isso não é a compreensão geral da população e, muito menos, dos administradores públicos, responsáveis pelo quadro que hoje presenciamos na maioria dos municípios brasileiros.

A produção simbólica da população é substituída por meros eventos, programações convenientes, que em nada contribuem para o processo civilizatório. Em Floriano, município do Estado do Piauí, a realidade não é diferente e os descasos mais explícitos estão sofrendo os prédios históricos. O município já completou um século de existência e acumula razoável número de construções antigas.  Parte deste acervo, que compõe o patrimônio arquitetônico, são os prédios pertencentes ao estado, município ou famílias. Mas, o tempo passou e estes prédios, que antes tiveram uso e importância, hoje se encontram sem cuidados.

O Plano Diretor do município, “adormecido em berço esplêndido”, prever o tombamento de mais de 60 prédios, que representam a história arquitetônica de Floriano. A Catedral de São Pedro, os casarios sírios e outros prédios com características coloniais fazem parte desta seleção, como as ruínas das fazendas imperiais, que contam parte da nossa história. Cabe agora aos poderes cumprirem seus papeis. A Câmara Municipal deve apresentar Projeto de Lei determinando a preservação destas relíquias. A prefeitura deve acatar com rigor a aplicação das garantias legais.

Silenciosamente, a Catedral de São Pedro, na época Co-Catedral, perdeu todo o seu forro pintado a óleo, com imagens de anjos barrocos, quando foi trocado por forro de PVC. Esta mudança expõe insensibilidade dos gestores locais e do bispo de então. Bastava investir em profissionais capacitados e a restauração estava garantida.

Ainda assistimos outro caso absurdo: a prefeitura montou uma operação eleitoreira envolvendo a Praça Sebastião Martins. No período da campanha política, há mais de um ano, iniciou uma reforma que dura ainda hoje. O pior é que a praça foi totalmente mudada. A estrutura do bar Sertã foi demolida, com o argumento de que a base da edificação estava comprometida. Porém, os engenheiros não mostraram este laudo para a população, através dos meios de comunicação. Somente inventaram o convencimento. Já passou bastante tempo e nada foi concluído. Nesta agressão, muitos anos de história do município foram jogados no lixo. Se algum florianense ficou vinte anos sem visitar sua terra natal não reconhecerá a praça, quando retornar, pela total descaracterização imposta.

O patrimônio arquitetônico há anos está sem receber nenhum tipo de restauração eficiente. O que constatamos é que vários destes prédios enumerados no Plano Diretor estão em pré-ruínas ou sendo alteradas as fachadas. Em alguns, os públicos, apenas a pintura foi refeita pela prefeitura. Ação necessária, mas incipiente. O que falta na verdade é uma educação sistêmica, que envolva a história e a cultura do município. Uma política pública esclarecida, com poder de encaminhamentos e concretizações.
 
Para esta realidade é imprescindível a articulação de todas as entidades governamentais e não-governamentais, numa discussão aprofundada sobre a importância do patrimônio arquitetônico. Também, defender com intransigência a restauração urgente de todos os prédios históricos e fiscalizar o cumprimento das leis preservação já existentes. Queremos nossa história viva.

Fonte: Portal Noticias de Floriano

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