Conto - Dácio Borges de Melo
O certo é que Danúnzio, Divaldo e nego Cléber foram a uma tertúlia que sempre ocorria naqueles fins de semana.
Terminada a festa, Divaldo e nego Cléber resolveram esticar a noite e Danúnzio tava escalado, por dona Lourdes, pra fazer a feira bem cedo, por isso rumou mais cedo pra casa.
Alta noite, no caminho de casa, tinha que encurtar estrada passando pelo Beco das Almas. Caminho estreito, cercado de mato, escuro que nem breu.
Antes de chegar no beco, bateu a mão no bolso e tirou o único cigarro Gaivota que tinha, todo amassado, bateu outra vez a mão no bolsos atrás de fósforo, em vão.
Enfrentar o beco tenebroso sem um cigarro para iludir o medo era fogo. Mas foi o jeito, entrou nas trevas das almas, com o cigarrinho na mão, no ponto de qualquer barulho sair correndo a mais de mil.
O efeito da cachaça é que ainda lhe dava um rasgo de coragem. A passos rápidos, em meio a trevas totais, seguiu beco a dentro.
Na outra entrada beco, avistou uma pequena brasa dançar no ar, o que fez todo seu cabelo levantar! Logo a seguir se acalmou quando ouviu alguém assoviar uma música de Roberto Carlos comum na época.
Certamente pra espantar o medo do afamado beco. Sem ninguém enxergar ninguém, ao se aproximar um do outro, Danúnzio perguntou com a voz arrastada..."tem fogo aí, meu amigo!".
Danúnzio não viu, mas sentiu o cara jogar algumas coisas para cima e com uma voz rouca gritar e disparar noite a dentro.
De manhã cedo já no rumo da feira, Danúnzio resolveu passar pelo beco para ver o que resultara da noite assombrosa. Encontrou um pau de travessa, um cofo com peixes e outros espalhados, vara de pescar e outras coisas mais.
Filhos, netos e bisnetos, certamente ouviram muitas estórias de assombração.
Ah, rá, rá rá!...