Carnaval
(na foto acima, o senhor João de Deus Alves pai do Cronista, que tocava Piston)
O mais longe que a minha memória alcança vejo Floriano nos
vórtices de Rei Momo. Nos primeiros tempos o Zé Pereira, no sábado, anunciando
o período de brincadeira. Homens fantasiados burlescamente, montados em jumentos,
andando pelas ruas cantando:
Viva o Zé Pereira!
Viva o Carnaval!
Viva a brincadeira
Que a ninguém faz mal.
Domingo era o dia do Entrudo. Banho de água nos amigos e
vizinhos. Cabacinhas de líquido volátil colorido atiradas nos incautos,
manchando-lhes momentaneamente as roupas, provocando sustos ou iras que logo se
desfaziam . Jatos de água ou mesmo de lama, sugada nas poças por repuxos de
bambu ou de folhas de flandres atirados contra as pessoas. Uma farra.
Era corrente na cidade que todos os anos nesse domingo o
senhor Dico Leão ia dar o banho de entrudo no senhor João Matos seu vizinho.
Nos três dias à tardezinha havia o corso. Os poucos
automóveis então existentes conduzindo seus donos, familiares e amigos, capotas
arreadas, saiam da Praça da Igreja, desciam a rua São Pedro até a Praça do
Mercado, passavam pela rua Silva Jardim e subiam à Avenida Álvaro Mendes. Isto
muitas vezes até o escurecer. Durante o curso confetes eram jogados ,
serpentinas atiradas. O povo postado nas ruas e concentrado na praça de tudo
participando com alegria.
Os bailes a fantasias completavam cada dia da festa
tradicional. Bailes na casa do senhor João José Ribeiro a princípio, mais tarde
na residência do senhor Antonio Anísio Ribeiro Gonçalves. Estes para a chamada
elite. Os operários dançavam na sede da
União Artística Operária Florianense e alguns anos os seus bailes chegaram a
acontecer na residência Sebastião Araújo, à rua São João. Nesses bailes a tônica era a alegria contagiante expressa
nas danças ,nos cordões que circulavam pelas salas, os foliões estimulados
pelas músicas eletrizantes que todos sabiam cantar dos carnavais passados com no
a do em curso pelo ritmo da s orquestras todas locais, pelos lança perfumes não
proibidos e largamente usados de modo a impregnar o ar com suas emanações.
Em meados os anos trinta, possivelmente em 1935, se não me
falha a memória, surgiu um bloco de rua famoso, “Os Amantes da Arte”. Criado
por inspiração de José Dutra, grande incentivador da arte musical em Floriano e
por ele dirigido, saiu dois anos consecutivos, percorrendo as residências mais
importantes da cidade, brincando com muita harmonia e animação. Nesses dois
anos usou fantasias de “pierrot”. Calças e blusas vermelhas no primeiro ano e
calças brancas e blusa preta no segundo. A Porta Estandarte era a jovem “Tintô
Paixão”.Para registro, cito aqui os nomes dos demais integrantes musicais que
tocavam: José Dutra, violino; Arudá Bucar, flauta; Eugênio Pereira, trombone;
João Mrtins, saxofone; Nestor Coelho, saxofone; Sebastião Araújo, contra-baixo;
João de Deus Alves (meu pai), piston; Zezinho Rocha, saxofone; Francisco
Paixão, violão; José Cairara, banjo; Otacílio Paixão, violão; Antonio de Passos
Freitas, cavaquinho; Jonas Araújo, cavaquinho; Odali Paixão, cavaquinho;
Genésio, cavaquinho; Michel Demes, maracá; Olívio Paixão, pandeiro; Francisco
Dantas, pandeiro.
Com a Fundação do Floriano Clube, o carnaval passou a se
restringir mais a ele. O da elite, pois o dos operários continuou na União.
Todavia, blocos de rua ainda marcaram sua presença na cidade. Rafael Rocha, em
crônica reminiscência publicada em Jornal de Floriano número 367, fala dos
Águias, das Baianas do Arudá. E Luís
Pinto de Oliveira, memória viva da cidade, fez-me recordar dos Bambas da Folia
que ele e outros elementos da União fizeram e mantiveram por muitos anos.
Fonte: Jornal de Floriano