11/28/2019

Retratos de Floriano

MESTRE WALTER


Depoimento – Tibério José de Melo

WALTER OLTER MELO, o nosso tio, chegou em Floriano, mais precisamente, lá pelos idos de 1944, trazido por papai, Antonio de Melo Sobrinho, que chegara primeiro.

Sei que, em Butiti Bravo, ele chegou a trabalhar numa usina de beneficiamento de babaçu ou de arroz, não sei bem, daí a sua introdução em mecânica de máquinas.

Chegando a Floriano, empregou-se nos negócios do senhor Afonso Nogueira, que na época era empresário e mexia com navegação; então, o tio Walter ficava viajando de Floriano a Parnaíba, navegando os vapores do seu Afonso Nogueira, como mecânico de bordo.

Tio Walter teria ficado noivo com tia Inhá antes de deixar Buriti Bravo e foi buscá-la depois que se firmou.

Lembro, por exemplo, da primeira casa onde morou. Era ali entre a casa de Seu Zé Bem e dona Lourdes Martins na praça do Cruzeiro. Ali eu já me lembro do Djalma e do Divaldo ( seus filhos mais velhos ). Nós, entrewtanto, morávamos na Beira do Rio, ali perto da antiga usina Maria Bonita.

Era muito hábil no conserto de várias coisas, tanto que montou o seu negócio de conserto e aluguel de bicicletas. Com isto, ele criou a sua família com muita dignidade, dando educação, até onde pode, a todos.

Sempre roubavam uma de suas bicicletas, mas dificilmente não as recuperava, indo atrás em outra bicicleta. Tornou-se uma pessoa muito popular devido ao seu negócio.

Tratava-se de uma pessoa muito família. Vivia para a família e para as bicicletas. Todos o chamavam de Mestre Walter. Ah, sim, era muito bem humorado e gostava muito de piadas.

Muito inteligente ( papai diz que era o mais inteligente dos três ), pessoa de vanguarda. Sempre que havia uma novidade na cidade, ele era um dos primeiros a conseguir. Rádio, geladeira, panela de pressão, fogão a gás, coisas do tipo.

Sabia, sempre, o que estava acontecendo no mundo. Tinha opinião formada para tudo, dado que era muito bem informado, ouvindo rádio, ( só saía de casa depois de ouvir todos os noticiários de rádio, principalmente o Reporter Esso ). Ouvia todas as emissoras de rádio.

Lia bastante e proporcionava para todos nós muitos veículos de informação, tipo: revistas como O Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, quadrinhos etc. Jornal, já era mais difícil mas as revistas eram toda semana. Se mostrava sempre muito reflexivo, tinha resposta para tudo.

Era Espírita como a Maria Serva. Conhecia muito bem a doutrina e frequentava o Centro que ficava no Colégio do senhor Ribamar Leal.

Tornara-se amigo de toda aquela carcamanada do centro de Floriano, como também de todos aqueles comerciantes e da sociedade local. Antes de falecer já estava se incluindo nela.

Sei também que certa vez, quando rapaz, fora preso, devido a uma briga em que se meteu num cabaré da época.

Agora, o tio Walter, acho que por força da sua religião, era muito caridoso e muito bom.
Vivia cercado de menino. Pagava vitamina e cachorro quente no quiosque Mascote de Seu João e de dona Das Dores ( compadres de mamãe ).

No final do dia, era uma molecada enorme para levar as bicicletas para a casa dele. Ali o moleque tinha a oportunidade de andar, de graça, de bicicleta. Pela manhã era a mesma coisa. Muito engraçado.

Lembro-me que na Copa do Mundo de 1958 ele liderava a movimentação ali detrás da Igreja com um rádio instalado na Mascote. Juntava um monte de gente e a frequência do rádio às vezes ficava alta e bem nítida; outras vezes, bem fraca. Era um tal de tanto gol de Didi, Pelé, Vavá e Garrincha, sei lá.

No Chile, em 1962, foi a mesma coisa. Agarra, Gilmar!... Gol de Amarildo!... E o tio Walter lá na Barraca da Alegria, capengando. Ele puxava de uma perna.

Tio Walter e Vovó Serva criaram a Barraca da Alegria. Isto já perto do acidente. Cimentaram parte do quintal da casa da Dindinha e lá se fazia a festa com quermesse com muita gente participando. Vinha até o pessoal de fora. O objetivo era angariar fundos para a manutenção da Escola Humberto de Campos.

Tio Walter era uma pessoa pouco afeita a diversões. Participava de algumas festas no Floriano Clube. Gostava muito de um cinema, um circo, coisas assim. Nunca soube que o tio houvesse ido a um forró, que nem papai. Farra, então, não me lembro. Bebia, socialmente, muito pouco. Não era afeito.

Quando chegava um cantor na cidade, um artista do Sul ele não perdia. De certa forma era uma pessoa recatada, gostava muito de ler e de se informar. Gostava de política, muito.

Lembro que na eleição que elegeu o Jânio para Presidente da República, ele estava na linha de frente da campanha em Floriano a favor do Jânio. Papai e eu éramos Lott. Venceu o Jânio e se cantava muito:

Varre, varre, varre vassourinha
Varre, varre a bandalheira
Que o povo já está cansado
De sofrer desta maneira
Jânio Quadros é a esperança
Desse povo abandonado

Jânio Quadros é a certeza
De um Brasil moralizado
Alerta, meu irmão
Vassoura, conterrâneo
Vamos vencer com Jânio

Este jingle é a cara do Tio Walter. Era muito entusiasmado na política.

Apesar de recatado, era muito sociável. Tinha muito prazer em hospedar seus conterrâneos do Maranhão. Jesus ( do Melinho ), Rosemeire, que passavam férias em Floriano, quando elas chegavam, era um frisson danado. Eram bonitas e os rapazes da época queriam pegá-las. O tio levava-as para as festas.

Aqueles carcamanos, seu Tufi, Michel, Hagen, Salomão, Kalume, tinham muito respeito pelo tio Walter. Devem ter sentido muito a sua falta.

A tia Inhá, sua esposa, era um pouco irritada. Também, era muito menino. Todos muito danados e qualquer um perdia a paciência. Vivia com um cinto na cintura para dar umas lapadas quando não aguentava mais. Todo dia era umas três. Mamãe não era diferente. Não sei como estas mulheres aguentavam aquele monte de menino danado. Só no cinturão mesmo, não tinha jeito. Tio Walter, também, não aliviava não, metia a ripa, quando se fazia necessário.

Dia 24, agora, de janeiro, se o Djalma ( seu filho mais velho ) estivesse vivo, faria 60 anos.

O acidente de seu falecimento foi dia 04 de agosto de 1963 por volta de 9 hora da manhã, quando prestava seus serviços à Paróquia local, ali, na altura da loja do Michel Demes: ele pegou um choque e caiu de uma escada, não resistindo ao impacto, provavelmente, da queda.

Na foto, acima, observamos a sua família no ano de 1962, a sua esposa, tia Inhá, o Djalma, o Divaldo, o Waltinho, o Dácio, a Cecília, a Ceci e o João Coimbra.

DEPOIMENTOS:

Anônimo disse...
Lembro-me, quando era rapazote, que eu ficava com inveja, querendo também alugar uma bicicleta de mestre Walter. Certa vez, peguei uma carona na garupa com o meu amigo meu primo Luiz Orlando. Vibrei de tanta felicidade.

Bons tempos, aqueles!

Puluca
Chico Kangury disse...
Mestre Valter,

Lembro bastante dele. Gente boa, era meu amigo, confiava uma tarde inteira a sua bicicleta, quando estava abonado para aluga-la. Foi em suas bicicletas que aprendí a pedalar e andar no veículo. Levei muitos tombos, mas sou grato, ao mestre walter, pois não reunia condições para comprar uma bicicleta, sómente realizando este sonho em 1966, já em Teresina, servindo o Exercito Brasileiro. Valeu Tíberio, o seu tributo ao Mestre Walter, enriquece o nosso conhecimento e enaltece a pessoa merecedora. Abraços do colega e amigo, Chico Amorim (Kangury)
Unknown disse...
Sou filho de Waltinho, ele era meu avô e levo seu nome inteiro, Walter Olter Melo Neto. Muito elucidante o texto e, se possível for, gostaria de mais informações a respeito de meu avô.

Grato pela homenagem ao meu avô.
Anônimo disse...
Que bacana tete. Tem muitos detalhes sobre meu pai que eu não sabia.
A última vez que o Tibério esteve aqui em São Luís, ele contou um pouco sobre meu pai.
Quando menina, pensei que fosse adotada, pois fui a única filha que não conheceu o "mestre Walter". Papai morreu, eu era bebê.
A nostalgia no seu texto é de emocionar. Descobrir uma coisa em comum: adoro receber amigos de fora, leva-los para conhecer São Luís. Acho que puxei ao meu pai.
Bela homenagem. Parabéns!
abraço da prima Cloris.

Cloris Borges de Melo
Ilha de São Luís

Dispersão Poética


A vida, poeta, é um osso duro de roer; mas ainda há um porquê; esses teus sonhos sempre serão a tua razão de ser.

11/26/2019

Retratos de Floriano

CABARÉ


FOTO extraída de nossa inspiração, ainda nos anos setenta da famosa rua Coelho Rodrigues, que dá acesso 'a tradicional Ibiapaba.

Segundo conta o folclore, era nesse perímetro urbano, principalmente, nos anos sessenta, que o pessoal da Barragem de Boa Esperança, na época de sua construção, gostava de farrear com as meninas da zona do meretrício.

Atualmente, sem mais aquele brilho romântico, esses casarões estão sendo comprados e transformados em comércios e depósitos de empresas locais.

Era por aí, efetivamente, que a meninada iniciava sua conduta sexual, sem perceber os riscos que corriam.

11/25/2019

Faleceu Carlito de Bruno

Carlito, o encantador de amigos

Craque no futebol
Faleceu, domingo último, 24/11, o nosso grande amigo Carlito de Bruno, este que vinha tratando de sua saúde já havia um bom tempo, com boa recuperação mas que ontem não resistiu a uma cirurgia de alto risco em Fortaleza/CE

Carlos José da Silva Santos, o Carlito de Bruno, era formado em Agrimensura e programou sua vida sempre pautado na primazia familiar e em Floriano trabalhou e compartilhou seus conhecimentos como professor junto à ensino público e particular

Mas no esporte, tanto no futebol como no futebol de salão Carlito foi fundamental nessa trajetória, ganhando várias taças e troféus aos times pelos quais jogou, principalmente na pela seleção de Floriano jogando pela esquerda.

Foto
Mais um atleta e bom profissional nosso que subiu ao Pai (antes do combinado) mas que deixará imensas saudades àqueles que usufruíram de sua amizade e companhia.

Seguirá, Carlito, lá em cima promovendo bons lances de amor aos que lá o estarão recebendo com todas as honras a que tem direito.

11/22/2019

Beleza Negra

Atividades marcam o dia da Consciência Negra em Floriano

Consciência Negra
O dia da Consciência Negra foi celebrado em Floriano com uma vasta programação organizada pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer. O primeiro evento do dia, que faz parte da Semana da Consciência Negra em Floriano, foi realizado em parceria com o Colégio Técnico de Floriano – CTF e envolveu rodas de conversa com as alunas africanas de Porto Príncipe, oficinas, danças e capoeira.

Na oportunidade, também foi realizada a escolha da Miss Beleza Negra CTF, Miss Beleza Negra UFPI e Mister Beleza Negra CTF, sendo coroados os alunos Rauanna Santos, Helen Kacia Moraes e Lucas Silva, respectivamente, que participarão do concurso Beleza Negra, elegendo o Miss e Mister Beleza Negra de Floriano, no dia 30 de novembro.

Palestras, oficinas e workshops fazem parte da programação que promove ações em escolas públicas e privadas de Floriano, levando atividades que trabalham temáticas acerca da cultura africana, preconceito, dentre outros.

Fonte: SECOM

11/21/2019

Retratos de Floriano

Flagrantes de Ontem
A imagem nos remete Floriano quando comemorava seus cinquenta anos de fundação.
Era a cidade de outrora, com o poste de iluminação, a Usina Itaueira (à esquerda), e onde hoje o Bigodão/Zé do Flutuante (antiga residência de José Guimarães.
Não havia calçamento, somente a farta arborização com figueiras que formavam a chamada "rua da Rampa", hoje a avenida João Luiz Ferreira.
Fonte: Flagrantes de uma cidade 1997

11/20/2019

Retratos de Floriano

O BOM BANHO NA BARRA DA ONÇA

Colaboração: Nelson Oliveira

O título desse trabalho é relativo ao riacho do mesmop nome, que tem sua história em outro local e onde desembocava no rio Parnaiba depois de um longo percurso, chegando até o velho monge,formando na embocadura, na época do verão e que ficou conhecido como Barra da Onça.

ao desembocar no rio, ali se formava um belo local, ( não era praia ), onde a molecada a partir dos dez anos, escondido dos pais, se deliciava com banhos duradouros em águas limpíssimas, tendo no fundo uma areia, também muito limpa, que para a rapaziada era um verdadeiro paraíso e que muitos deles embevecidos com o local, perdiam até as aulas como livros que muitos deles não se lembravam onde os tinha deixado e, quando os pais, principalmente as mães descobram, haja "taca", com base na palmatória, visto que muitos eram denunciados pelas professoras que na época eram as segundas mães pelo número de aulas perdidas.

Os heróis dessa história eram sempre adolescentes, entre os dez e quinze anos e durante o banho não tinha nada de calção, era todo mundo "pelado" como veio ao mundo. Apesar disso, se notava nos "artistas" do espetáculo um alto grau de inocência e respeito, porque o local era isolado e à medida que os adultos se aproximavam, todo mundo caía n´água ou se escondia entre os arbustos. Era fenomenal.

Naquele tempo, não se ouvia nem falar em "água poluída" e nem em outras questões que atualmente assolam e preocupam o ser humano. A juventude, até as pessoas mais pobres era relativamente sadias, não se ouvia nem falar nesses produtos que hoje contaminam a nossa juventude, desde a tenra idade, levando-as para o fundo do poço e de nde poucos conseguem sair e a isso se deve, infelizmente, a falência da família, que deixou de ser a célula máter da sociedde.

Mas, voltemos ao assunto dessa mensagem: a molecada, que no dia a dia se deliciava daquele espaço tão rústico, porém, muito aconchegante, era feliz e por isso dificilmente havia um atrito, por menor que fosse, apesar de ter alguns que, furtivamente, davam um nó na camisa ou na calça de alguém e que se denominava de "biscoito", porque, na sua maioria, era preciso usar os dentes para desatar o referido nó no qual o autor urinava e botava areia, que se tornava ainda mais difícil, devido o cheiro da urina e a areia com quem os dentes não se dar bem. Já pensou, numa situação dessas, em que o nó com o auxílio dos dentes era desfeito o terrível nó com sabor de urina com areia? Era terrível! entretanto, todos levavam na esportiva e aí os cuidados se redobravam.

Em algum momento, à medida que passava o tempo, a turma que apreciava o banho da Barra da Onça, foi crescendo, mudando a formação do corpo, o poder público atendendo a diversas reclamações pelo estado de nudez dos banhistas, resolveu adotar providências para eliminar aquela situação, indicando o cabo Severo (era nome próprio), como vigilante do espaço. Mas mesmo assim tinha aqueles que afoitadamente nas ausências do "Severo" vigilante, ainda voltavam para o reconfortante banho, sempre retornavam nas horas de pequenos movimentos na área. Aqueles que eram alcançados pela "lei" constituída de muitos conselhos proferidos pelo valente cabo da briosa polícia militar, aqueles que inocentemente e sem desrespeitar a autoridade aos poucos froam mudando os costumes, sem qualquer tipo de constrangimento.

Disso tudo, somente resta uma imorredoura saudade, por tudo que ali aconteceu, principalmente com a participação da família que sabia, sem ser doutor em qualquer matéria, educar os seus filhos tornando-os  pessoas disciplinadas, obedientes, respeitadores e temente a Deus.

Que surja outra Barra da Onça para aqueles que não desfrutaram de tamanha diversão. Que surja outra Barra da Onça para os jovens que não podem frequentar os luxuosos clubes sociais.

Coleção FLORIANENSES, Volume 12

  "Companheiros do Encontro Florianenses, atualmente sou a nova Presidente do Floriano Clube" - orienta a Diretora Verá Santos. Pa...