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Foto: Acervo pessoal Deoclécio Dantas |
A história do centro de Teresina não pode ser lembrada sem uma referência à mais famosa central de fofocas da cidade, instalada quando da inauguração, em 1937, do Café Avenida, que também vendia refeições, bebidas, refrigerantes e lanches, sendo que, na parte superior do prédio, que pertencia ao governo do Estado, funcionava a Câmara Municipal.
Em decorrência de umas fofocas ali produzidas, o interventor Leônidas de Castro Melo transformou em decreto, apoiado pelo Ministério da Justiça, a sua disposição de aposentar três dos mais brilhantes magistrados piauienses do século passado.
O próprio Leônidas Melo, em seu livro “Trechos do Meu Caminho”, lançado em 1976, discorre sobre a fofoca que o levou a desafiar a estrutura do Poder Judiciário.
Eis, por oportuno, trecho do relato feito pelo interventor: “Nesse tempo havia em Teresina o Café Avenida, à Praça Rio Branco, que funcionava ao ar livre, em mesinhas postas sob sombrias árvores, em redor do pequeno edifício. Ali, diariamente, de 8 às 10 horas da manhã, se reuniam muitas pessoas de destaque social e político. Magistrados, médicos, advogados, deputados, professores, todos afluiam a participar do gostoso cafezinho mas também à procura de saber das novidades da cidade. De todas as praças era a mais frequentada, uma espécie de centro de informações sobre os assuntos e ocorrências. Simplício Mendes e Esmaragdo de Freitas tornaram-se frequentadores habituais do Café Avenida. Todas as manhãs lá estavam eles. À sua mesa outras pessoas se achegavam e o ataque ao Governo passou a ser-lhes assunto de preferência, prato de todos os dias. Analisavam os atos da Interventoria, acusavam o interventor, aconselhavam a insubordinação, sugeriam mandados de segurança. A campanha a cada dia se tornava mais aberta. Pregavam a demissão do interventor, que, diziam, queria imoralmente, perpetuar-se no Poder. Recorreram à imprensa. Os jornais oposicionistas (no Piauí nunca deixou de haver política e oposição ao Governo) frequentemente traziam editoriais contra o interventor sob a responsabilidade dos editores mas na realidade da autoria dos desembargadores. Eu de tudo sabia mas votava ao caso o mais absoluto silêncio. Certa manhã era grande a frequência no Café Avenida. A mesa dos desembargadores estava acrescida de uma outra que lhe fora justaposta. Ao todo cerca de oito pessoas nessa mesa palestravam com os dois magistrados, entre elas um fiscal de rendas federais, recém chegado à Teresina que trabalhava na Delegacia do Tesouro Nacional onde trabalhava também meu irmão Otávio Melo, seu colega, como ele fiscal federal. Otávio, nos seus dias de folga, também frequentava o Café Avenida e nessa manhã lá aparecera na companhia de um amigo. Otávio e o companheiro tomaram lugares em mesa que ficava muito distante da mesa dos desembargadores. O fiscal recém-chegado ao avistar Otávio, pede licença, levanta-se da mesa dos desembargadores e dirigiu-se à mesa onde estava o colega. Nesse momento o desembargador Esmaragdo toma-se de ira, levanta-se, dá, com força, um murro sobre a mesa e diz em voz alta, encolerizando-se: Retiro-me. Não posso ficar aqui a olhar pra esse homem (e apontou para Otávio). O desembargador Simplício Mendes minutos depois também retirou-se. Os presentes ficaram estarrecidos”.
A encrenca entre Leônidas Melo e os magistrados teve origem no fato de que, os dois, além do desembargador José de Arimateia Tito, opunham-se à indicação, feita pelo interventor, do seu irmão Eurípedes de Castro Melo para vaga deixada no Tribunal pela aposentadoria do magistrado Cristiano Castelo Branco.
E assim, no dia 27 de novembro de 1939, estimulado pela fofoca aqui mencionada, o interventor baixou o decreto n° 214, que aposentou “no interesse do serviço público” os três desembargadores.
Em tempo: Inaugurado em 1937,
o Café Avenida foi demolido em 1973.