DJALMA SILVA ( o professor e suas memórias )
Colaboração: Nelson Oliveira
CARNAVAL
O mais que a minha memória alcança, vejo Floriano nos cordões do Rei Momo. Nos primeiros tempos do Zé Pereira, no sábado ( 01 ), anunciando o período da brincadeira. Homens fantasiados burlescamente, montados em jumentos, andando pelas ruas, cantando:
Viva o Zé Pereira
Viva o carnaval
Viva a brincadeira
Que a ninguém faz mal
Domingo era o dia do banho de água nos amigos e vizinhos. Cabacinhas de líquido volátil colorido atirado nos incautos, manchando-lhes momentaneamente as roupas, provocando sustos ou ira, que logo se desfaziam, felizmente. Jatos de água ou mesmo de lama, sugada das poças d´água da rua por repuxos de bambu ou folhas de flandres contra as pessoas ( 02 ). Uma farra. Era corrente na cidade, que todos os anos, nesse domingo, o senhor Dico Leão ( alto comerciante ) ( 03 ) ia dar banho no senhor João Matos ( 04 ).
Nos três , à tardezinha, havia o corso ( 05 ). Os poucos automóveis então existentes, conduzindo seus donos, familiares e amigos, capotas arreadas saíam da praça da Igreja desciam a rua São Pedro até a praça coronel Borges ( onde, atualmente, está edificado o poder legislativo municipal, construído na gestão Adelmar Pereira ), passavam pela rua Silva Jardim e subiam a avenida Álvaro Mendes ( hoje, Getúlio Vargas ). Isto muitas vezes até escurecer. Durante o corso, confetes eram jogados , serpentinas atiradas. O povo postado nas ruas e concentradas na praça da Matriz de tudo participando com alegria ( 05 ).
Os bailes à fantasia complementavam cada dia da festa tradicional. Bailes na casa do senhor João José Ribeiro, a princípio, mais tarde na residência do senhor José Gomes. Em época posterior, na casa do senhor Antonio Anísio Ribeiro Gonçalves. Estes eram para a chamada elite! Os operários dançavam na União Artística Operária Florianense e em alguns anos os seus bailes chegaram a acontecer na residência do senhor Sebastião Araújo, à rua São João ( 06 ).
Nesses bailes a tônica era a alegria contagiante expressa nas danças, nos cordões que circulavam pelas salas, os foliões estimulados pelas músicas eletrizantes que todos sabiam cantar dos carnavais passados e como do em curso; pelo ritmo das orquestras, todas locais, pelo lança perfumes não proíbidos e largamente usados de modo a impregnar o ar emanações.
Em meados dos anos 30, possivelmente em 1935, se não me falha a memória, surgiu um bloco de rua famoso: “O AMANTE DAS ARTES”, criado por inspiração de José Dutra, grande incentivador da arte musical em Floriano, e por ele dirigido; saiu dois anos seguidos, percorrendo as residências mais importantes da cidade, brincando com muita alegria e animação ( 07 ). Nesses dois anos usou fantasias de “pierrot”. Calças e blusas vermelhas no primeiro ano e calças brancas e blusas pretas no segundo ( 07 ).
A Porta Estandarte era a jovem Tintô Paixão. Para registro na história, cito aqui os nomes dos demais integrantes do bloco e os instrumentos musicais que tocavam. José Dutra ( 08 ), flauta; João Dantas ( 09 ), violino; Arudá Bucar ( 10 ), flauta; Eugênio Pereira ( 11 ), trombone; Nestor Coelho ( 12 ), saxofone; Sebastião Araújo ( 13 ), Contrabaixo; João de Deus ( 14 ), pistom; Zezinho Rocha ( 15 ), saxofone; Francisco Paixão ( 16 ), violão; José Cairara, banjo; Otacílio Paixão ( 17 ), violão; Antonio de Passos Freitas ( 18 ), cavaquinho; Odali Paixão ( 19 ), cavaquinho; Genésio, cavaquinho; Michel Demes ( 20 ), maracá; Olívio Paixão ( 21 ), pandeiro; Francisco Dantas, pandeiro.
Com a fundação do Floriano Clube ( 22 ), o carnaval passou a se restringir a ele o da elite, pois o dos operários continou na União Artística Operária Florianense; todavia, vários blocos de rua ainda marcaram sua presença na cidade. Rafael Rocha, em crônica -, REMINISCÊNCIA – publicada no Jornal de Floriano, nº 367, fala dos “ÁGUIAS”, das “BAIANAS”. E Luiz Pinto de Oliveira ( in memorian ) ( 23 ), memória viva da cidade, fez lembrar-me do “BAMBA DA FOLIA” ( 24 ), que ele e outros elementos da União fizeram por muitos anos.
NOTAS EXPLICATIVAS
01 – Após longo tempo desaparecido, ressurgiu somente nos anos 90, numa promoção do senhor Ozires Freitas, sempre num sábado, também, uma semana antes do tríduo de momo;
02 – Tal ato ainda prosseguiu no tempo mais moderno, até nos anos70/80, alguns usando até graxa para sujar as pessoas o que felizmente não foi a frente;
03 – O senhor Dico Leão morava numa casa próximo onde está instalada a loja Maranata e o senhor João Matos, na esquina, “X” inde fica as Lojas Paraty;
04 – O senhor João Matos era baixinho e o senhor Dico alto e forte;
05 – Naquele tempo, a avenida Getúlio Vargas chamava-se Álvaro Mendes e foi batizada com o nome do velho caudilho em 1945, quando ele veio ao Piauí para a inauguração do Hospital que também tem o seu nome em Teresina;
06 – A casa do senhor Sebastião Araújo, que tinha a profissão de alfaiate, era edificada onde hoje está as Óticas Floriano;
07 – Esse tipo de procedimento durou, se não houver engano, até os anos 50/60, já no tempo dos “PIRATAS”; os trajes também eram muito parecidos, com diferença na dos Piratas, que usavam, na cabeça, um lenço vermelho;
08 – Então gerente da firma Roland Jacob, que teve também no desempenho do mesmo cargo, o nosso prezado senhor Manoel Alves de Almeida;
09 – Professor de música em vários colégios da época;
10 – Pai de Carlos Bucar, Bucar ( in memorian ), Maria Luiza, Elza, Elda entre outros, marido de dona Jasmina Waquim Bucar ( falecida );
11 – Maestro competente, funcionário público estadual, pai do delegado Francisco de Paula ( o Chiquinho ), fundou várias bandas de música, inclusive a “EUTERPE FLORIANENSE” da União Artística Operária Florianense;
12 – Casado com dona Edu, pai do médico Odilon Madeira Coelho e que nos anos 60, mantinha uma vidraçaria na rua São Pedro;
13 – Era alfaiate, operário do senhor Zezinho Rocha;
14 – Funcionário público estadual ( Mesa de Rendas ), pai do memorialista;
15 – proprietário de uma alfaiataria, na casa anexa à Farmácia Rocha, onde hoje está estabelecida uma calçadeira;
16 – pai da Tinto, a porta estandarte do Amante da Arte, era funcionário público estadual e exímio violonista, só usava terno de linho branco;
17 – filho do senhor Francisco Paixão, era barbeiro;
18 – Irmão do Sissi Freitas;
19 – Filho do Senhor Francisco Paixão, era funileiro;
20 – Comerciante por demais conhecido, pai de dona Ivone Demes, Miriam e outros;
21 – filho do senhor Francisco Paixão, desempenhava a profissão de barbeiro.