1/26/2009

FIM DE TARDE


Essa foto do nosso amigo Luís Carlos ficou legal. A nossa inspiração brota de repente, quando observamos o nosso por do sol.

A brisa, a calmaria e o aconchego da noite nos envolve, de tal forma, que seria impossível resistir a uma pausa no flutuante.

O tempo pode passar, mas essas emoções permanecerão para sempre e aqui registramos, tentando segurar a peteca, para exaltar o belo por do sol do cais do porto de Floriano.

1/23/2009

MESTRE WALTER


Depoimento – Tibério José de Melo

WALTER OLTER MELO, o nosso tio, chegou em Floriano, mais precisamente, lá pelos idos de 1944, trazido por papai, Antonio de Melo Sobrinho, que chegara primeiro.

Sei que, em Butiti Bravo, ele chegou a trabalhar numa usina de beneficiamento de babaçu ou de arroz, não sei bem, daí a sua introdução em mecânica de máquinas.

Chegando a Floriano, empregou-se nos negócios do senhor Afonso Nogueira, que na época era empresário e mexia com navegação; então, o tio Walter ficava viajando de Floriano a Parnaíba, navegando os vapores do seu Afonso Nogueira, como mecânico de bordo.

Tio Walter teria ficado noivo com tia Inhá antes de deixar Buriti Bravo e foi buscá-la depois que se firmou.

Lembro, por exemplo, da primeira casa onde morou. Era ali entre a casa de Seu Zé Bem e dona Lourdes Martins na praça do Cruzeiro. Ali eu já me lembro do Djalma e do Divaldo ( seus filhos mais velhos ). Nós, entrewtanto, morávamos na Beira do Rio, ali perto da antiga usina Maria Bonita.

Era muito hábil no conserto de várias coisas, tanto que montou o seu negócio de conserto e aluguel de bicicletas. Com isto, ele criou a sua família com muita dignidade, dando educação, até onde pode, a todos.

Sempre roubavam uma de suas bicicletas, mas dificilmente não as recuperava, indo atrás em outra bicicleta. Tornou-se uma pessoa muito popular devido ao seu negócio.

Tratava-se de uma pessoa muito família. Vivia para a família e para as bicicletas. Todos o chamavam de Mestre Walter. Ah, sim, era muito bem humorado e gostava muito de piadas.

Muito inteligente ( papai diz que era o mais inteligente dos três ), pessoa de vanguarda. Sempre que havia uma novidade na cidade, ele era um dos primeiros a conseguir. Rádio, geladeira, panela de pressão, fogão a gás, coisas do tipo.

Sabia, sempre, o que estava acontecendo no mundo. Tinha opinião formada para tudo, dado que era muito bem informado, ouvindo rádio, ( só saía de casa depois de ouvir todos os noticiários de rádio, principalmente o Reporter Esso ). Ouvia todas as emissoras de rádio.

Lia bastante e proporcionava para todos nós muitos veículos de informação, tipo: revistas como O Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, quadrinhos etc. Jornal, já era mais difícil mas as revistas eram toda semana. Se mostrava sempre muito reflexivo, tinha resposta para tudo.

Era Espírita como a Maria Serva. Conhecia muito bem a doutrina e frequentava o Centro que ficava no Colégio do senhor Ribamar Leal.

Tornara-se amigo de toda aquela carcamanada do centro de Floriano, como também de todos aqueles comerciantes e da sociedade local. Antes de falecer já estava se incluindo nela.

Sei também que certa vez, quando rapaz, fora preso, devido a uma briga em que se meteu num cabaré da época.

Agora, o tio Walter, acho que por força da sua religião, era muito caridoso e muito bom.
Vivia cercado de menino. Pagava vitamina e cachorro quente no quiosque Mascote de Seu João e de dona Das Dores ( compadres de mamãe ).

No final do dia, era uma molecada enorme para levar as bicicletas para a casa dele. Ali o moleque tinha a oportunidade de andar, de graça, de bicicleta. Pela manhã era a mesma coisa. Muito engraçado.

Lembro-me que na Copa do Mundo de 1958 ele liderava a movimentação ali detrás da Igreja com um rádio instalado na Mascote. Juntava um monte de gente e a frequência do rádio às vezes ficava alta e bem nítida; outras vezes, bem fraca. Era um tal de tanto gol de Didi, Pelé, Vavá e Garrincha, sei lá.

No Chile, em 1962, foi a mesma coisa. Agarra, Gilmar!... Gol de Amarildo!... E o tio Walter lá na Barraca da Alegria, capengando. Ele puxava de uma perna.

Tio Walter e Vovó Serva criaram a Barraca da Alegria. Isto já perto do acidente. Cimentaram parte do quintal da casa da Dindinha e lá se fazia a festa com quermesse com muita gente participando. Vinha até o pessoal de fora. O objetivo era angariar fundos para a manutenção da Escola Humberto de Campos.

Tio Walter era uma pessoa pouco afeita a diversões. Participava de algumas festas no Floriano Clube. Gostava muito de um cinema, um circo, coisas assim. Nunca soube que o tio houvesse ido a um forró, que nem papai. Farra, então, não me lembro. Bebia, socialmente, muito pouco. Não era afeito.

Quando chegava um cantor na cidade, um artista do Sul ele não perdia. De certa forma era uma pessoa recatada, gostava muito de ler e de se informar. Gostava de política, muito.

Lembro que na eleição que elegeu o Jânio para Presidente da República, ele estava na linha de frente da campanha em Floriano a favor do Jânio. Papai e eu éramos Lott. Venceu o Jânio e se cantava muito:

Varre, varre, varre vassourinha
Varre, varre a bandalheira
Que o povo já está cansado
De sofrer desta maneira
Jânio Quadros é a esperança
Desse povo abandonado

Jânio Quadros é a certeza
De um Brasil moralizado
Alerta, meu irmão
Vassoura, conterrâneo
Vamos vencer com Jânio

Este jingle é a cara do Tio Walter. Era muito entusiasmado na política.

Apesar de recatado, era muito sociável. Tinha muito prazer em hospedar seus conterrâneos do Maranhão. Jesus ( do Melinho ), Rosemeire, que passavam férias em Floriano, quando elas chegavam, era um frisson danado. Eram bonitas e os rapazes da época queriam pegá-las. O tio levava-as para as festas.

Aqueles carcamanos, seu Tufi, Michel, Hagen, Salomão, Kalume, tinham muito respeito pelo tio Walter. Devem ter sentido muito a sua falta.

A tia Inhá, sua esposa, era um pouco irritada. Também, era muito menino. Todos muito danados e qualquer um perdia a paciência. Vivia com um cinto na cintura para dar umas lapadas quando não aguentava mais. Todo dia era umas três. Mamãe não era diferente. Não sei como estas mulheres aguentavam aquele monte de menino danado. Só no cinturão mesmo, não tinha jeito. Tio Walter, também, não aliviava não, metia a ripa, quando se fazia necessário.

Dia 24, agora, de janeiro, se o Djalma ( seu filho mais velho ) estivesse vivo, faria 60 anos.

O acidente de seu falecimento foi dia 04 de agosto de 1963 por volta de 9 hora da manhã, quando prestava seus serviços à Paróquia local, ali, na altura da loja do Michel Demes: ele pegou um choque e caiu de uma escada, não resistindo ao impacto, provavelmente, da queda.

Na foto, acima, observamos a sua família no ano de 1962, a sua esposa, tia Inhá, o Djalma, o Divaldo, o Waltinho, o Dácio, a Cecília, a Ceci e o João Coimbra.

1/22/2009

ENTREVISTA COM O TONTONHO




TONTONHO - RUMO AOS 2.000 GOLS

PORTAL – Tontonho,qual é a sua paixão?

TONTONHO – Minha família, filhos e amigos.

PORTAL – Conte-nos um pouco de sua biografia, certo?

TONTONHO – Bem, hoje, estou divorciado, sou natural do Crato ( CE ), formei-me em Ciências Contábeis, mas também sou Técnico em Eletrônica, trabalhando atualmente na CHESF, como Gerente de Substação.

PORTAL – Fale de sua família?

TONTONHO – Meus pais vieram do Crato para Floriano no início dos anos setenta e aqui se estabeleceram no ramo de confecções. Meus pais, seu Valmir Correia e dona Aldira, lutaram bastante para a criação dos filhos com muita dificuldade, mas conseguiram vencer.

PORTAL – Vocês, são quantos irmãos?

TONTONHO – Nós somos ao todo de dez irmãos, pela ordem, o José Aldo, a Solange, o Valmir Filho, o Paulo César, o José Neto, o João Bosco ( Bóia ), o Henrique, a Sara e o Luciano e este que vos fala.

PORTAL – Qual é o seu hobby?

TONTONHO - Bem, o meu grande hobby é jogar futebol, onde procuro sempre preservar e atuar anotando todos os gols que faço em todos os jogos pelos quais participo, principalmente em Floriano na AABB.

PORTAL – Conte-nos como começou no futebol?

TONTONHO – O curioso, veja bem, é que comecei jogando no gol no início dos anos setenta, depois passei a ser centroavante, veja como foi engraçado, disparei a fazer gols e, hoje, estou chegando à casa dos dois mil gols.

PORTAL – A propósito, que história é essa de você já ter passado da marca do grande Pelé?

TONTONHO - Pois é, comecei a anotar os gols que fazia na querida AABB/Floriano no dia 11 de junho ( sábado ) de 1994, numa rodada de bebidas, após a pelada, isto é, na famosa RESENHA, onde o nosso amigo CUNHA disse que eu não faria 100 ( cem ) gols até o final daquele ano,os meus amigos que estavam no momento, aí, me incentivaram, aceitei o desafio e, hoje, já estamos com 1.958 gols, ta certo? Observação: no dia 11 de junho ( sábado ) de 1994, comecei por anotar 02 ( dois ) gols.

PORTAL – E quais foram, assim, seus gols mais importantes?

TONTONHO – Provavelmente, eu acredito, que os gols em datas comemorativas, aniversários de amigos, nascimento de meus filhos, Natal e outras datas tornaram-se de suma importância.

PORTAL – E quanto à sua artilharia?

TONTONHO – Fui artilheiro em diversos momentos e torneios, tipo Vice-Artilheiro do Torneio de Férias de Inverno– Floriano; artilheiro do Torneio do Campo da Rua 7 de setembro no final dos anos da década de 80 e por toda a década de 90. ( Considerado até hoje o maior artilheiro que passou por aquele campo ); artilheiro do Torneio dos Torcedores de Times do Rio na AABB (Vas-Fla-Flu-Botafogo ); artilheiro do Torneio de Férias – Guadalupe; artilheiro do Torneio / Mocofolia / AABB; e artilheiro do Torneio de Confraternização AABB / AGESPISA / Bola cheia.

PORTAL – E com relação aos seus títulos conquistados?

TONTONHO – Ganhamos vários títulos, dentre os quais, os títulos recentes, tipo Vice-Campeão do I Campeonato dos Quarentões de Floriano 2.006 -Vice artilheiro; Vice-Campeão do I Campeonato dos Quarentões de Floriano 2.007 -Vice artilheiro; Campeão do I Campeonato dos Quarentões de Floriano 2.008 - Vice artilheiro ( retorno após LCA ); Campeão do Torneio de Confraternização AABB / AGESPISA / Bola cheia.

PORTAL – Pretende, mesmo, chegar aos 2.000 mil gols, como prometidos?

TONTONHO – Certamente, se Deus quiser, vamos chegar lá, já estamos próximos disso, faltando apenas 48 gols, de forma que faremos uma grande festa para comemorar com os amigos em Floriano.

1/18/2009

MILAD ABRAÃO KALUME


Pesquisa e texto: Mª Umbelina Marçal Gadêlha

Filho de Abaão Kalume e Maria Zarur Kalume, Milad Abraão Kalume Nasceu em Malula (Síria), no dia 25.12.1896. Daí o seu nome Milad, que quer dizer nascimento.

Malula é uma pequena cidade 30 km distante da capital Damasco.

Lá também, nasceram: Assad Kalume (seu irmão), seus primos Dib Jorge Barguil, Gatasse Elias Kalume e Abib Kalume, dentre outros parentes.

Milad Abraão Kalume ajudava seu pai Abraão no pastoreio e no tratamento e conserto de ossos quebrados das ovelhas de seu rebanho e de rebanho vizinhos.

Além de sua língua prática, o árabe, Milad falava o aramaico (língua morta, usada no tempo de Cristo e preservada até hoje na cidade de Malula), um pouco de grego e, fluentemente, o francês.

Fez seu curso primário em Malula e estudou 3 (três) anos no Seminário do Líbano, quando foi convocado para a 1ª Guerra Mundial (1914/1918). Ao terminar o conflito (serviu ao Exército cerca de seis meses), não mais voltou para o Seminário, mas regressou a Malula para ajudar ao seu pai nos serviços agropecuários de manutenção da família.

Em 12 de outubro de 1924, casou-se com Málaque Francis Kalume, e, logo após, partiu com ela para o Brasil, à procura de seu irmão Assad Kalume, já radicado em Floriano, desde 1906 onde mantinha bom estabelecimento comercial.

O Sr. Assad, conhecido como Said, era casado com D. Maria Zarur Kalume. O casal teve 7 filhos: Abraão, Elias, Farisa, Olga, Leônidas, Aleksandra e Antônio José.

Chegando em Floriano, em 20 de janeiro de 1925, hospedou-se na casa de deu irmão (Assad), e trabalhou como balconista na “Casa Assad Kalume”, por um período de 1 ano.

Em 12 de 04 de 1926 abriu em associação com seu primo Gabriel Zarur, uma pequena loja, na Praça da Igreja, atual Praça Dr. Sebastião Martins.

Esta sociedade durou 2 anos, e Milad resolveu abrir seu próprio negócio: uma loja de sortimento variado próprio da época: tecido, ferragens, louças, utensílios de cozinha, linhas, perfumes, artigos de toucador, chapéus, meias, material escolar e de pesca, tênis, ferramentas, tintas e vernizes para carpinteiro, açúcar, café em grãos e colorau.

Em 1940/41, construiu sua nova moradia, na então Praça do Mercado, atual Praça Coronel Borges, onde residiu até seu falecimento.

Entre as décadas de 1950 e 1960, construiu 10 salões para alugar.

Aposentou-se em 1965. Ficou sócio da Livraria e Papelaria Alvorada, fundada em março de 1962, junto com seu filho Gabriel Kalume.

Era católico fervoroso, e transmitiu aos filhos a educação cristã. Conhecedor e leitor assíduo da Bíblia, costumava “discutir” com pastores protestantes sobre os pontos divergentes entre as duas religiões. Pertenceu a todas as associações religiosas da cidade e foi, por muitos anos, Presidente da Associação Beneficente São Vicente de Paulo.

Gostava de prestar assistência àqueles que, com braços ou pernas quebradas, iam ao seu encontro em busca de socorro. E, com dedicação e paciência, apesar de utilizar processos artesanais eram socorridos. Posteriormente, em 1974, esse atendimento passou a ser feito com a supervisão do seu filho, o médico ortopedista Dr. José Afonso.

Milad faleceu em 14 de abril de 1975, de embolia cerebral, deixando consternada a comunidade florianense, seus amigos, familiares, viúva, 11 filhos e 23 netos.

São seus descendentes:

  • Maria de Lourdes Kalume Reis, Viúva de David de Carvalho Reis. Filhos: Carlos Alberto, Paulo Afonso e Maria de Lourdes.
  • Râmiza Kalume Brígido, viúva de Francisco de Assis Brígido. Filhos: Franklin e Mônica.
  • Clarice Kalume, já falecida.
  • Teresinha Kalume, Casada com Jorge Kalume (filho do saudoso Abib Kalume).
  • Maria do Carmo Kalume Hidd, casada com Aziz Elias Hidd, ambos falecidos em 1983. Filhos: Regina Coeli, Rejane e Ricardo.
  • Pedro de Alcântara Kalume, casado com Maria Aparecida Cárdenas Kalume.Filhos: Rita de Cássia e Milad Kalume Neto.
  • Gabriel Kalume, casado com Gêisa de Sousa Martins Kalume.Filhos: Sílvia e Ricardo.
  • Amina Kalume Reis, casada com Antônio Marques dos Reis.Filhos: Karla, Káthia, Antônio Filho, Marcelo, Cláudio e Karenne ( gêmeos)
  • Maria da Salvação Kalume.
  • José Afonso Kalume, casado com Márcia Albuquerque Kalume. Filhos: Camila e Flávia.
  • Antônio de Pádua Francis Kalume, casado com Maria das Graças Cavalcante Kalume. Filhos: Débora, Youssef e Clarice.

Em 25 de dezembro de 1996, aconteceu o primeiro centenário de Milad Abraão Kalume. Um cidadão que merece o reconhecimento da comunidade florianense, pelo seu trabalho prestado, por sua simplicidade, honradez, dignidade e, sobretudo, por seu espírito humanitário de serviço ao próximo.

GALERIA


Essa é a nossa avenida Esmaragdo de Freitas, mais conhecida como a GALERIA, que vai até o Buraco da Malária. Quando a gente era criança, brincávamos por aí tomando banho de chuvas.

O tempo passou, mas observamos que o seu aspecto ainda continua o mesmo. Não sabíamos dos riscos que corríamos, à época, porque o que queríamos era mesmo brincar, correr e pular.

Seria de suma importância, entretanto, se as nossas autoridades fizessem uma campanha, uma vistoria junto à comunidade local, no sentido de revitalisar esse nosso tradicional logradouro; evitaria-se a proliferação, inclusive, do mosquito da dengue.

A foto foi enviada pela nossa amiga florianense Arlenilde Andrade, que hoje mora em Brasília.

1/17/2009

O VENENO ESTÁ NO CORAÇÃO

O VENENO ESTÁ NO CORAÇÃO
Por - Salomão Cury-Rad Oka

Conta uma antiga história árabe-florianense que uma jovem recém-casada estava tendo problemas com a sogra. Para resolver o problema, decidiu que mataria a velha envenenada, mas temia ser descoberta e presa pelo delegado de Floriano na época, Major Carlino Nunes, famoso por castigar os criminosos com mão de ferro.

Ficou sabendo, numa conversa com amigas, de um carcamano famoso por ter trazido da Síria conhecimentos sobre como curar as mais diversas doenças. Sua “especialidade” era, sem dúvida, a ortopedia, pois reduzia fraturas com perfeição, mas também entendia de ervas, garrafadas, emplastros e chás. Usava esses conhecimentos para curar sem cobrar nada do “paciente”.

Nos idos dos anos 20, quando não havia acesso a medicina, as pessoas recorriam a quem pudesse lhes ajudar. Esse carcamano, chamado Milad Kalume, era uma dessas pessoas sempre dispostas a ajudar. Morava próximo ao mercado central (atual praça Coronel Borges), onde a afluência de transeuntes era intensa e onde costumava acudir de bom grado quem lhe pedisse socorro. Suas curas eram incríveis. Verdadeiras façanhas terapêuticas aconteceram através das mãos de “seu” Milad, de modo que os brasileiros achavam que seu nome era “Milagre” Kalume.

E por isso que a jovem foi procurar “seu” Milad. Ao encontrá-lo, nem sequer se apresentou, indo direto ao ponto:

― Senhor Milad, preciso da sua ajuda. Casei-me recentemente e não suporto a minha sogra! Ela é horrível. Não consigo acreditar que meu marido, que é uma pessoa tão doce, saiu de dentro dela. Ela é uma verdadeira jararaca. Intromete-se em todos os meus assuntos conjugais. Seria melhor se aquela velha morresse e me deixasse em paz com o filho dela. Por isso vim aqui. Quero que o senhor me dê um preparado de ervas que a mate de maneira rápida e que não levante suspeitas sobre mim. Preciso de um veneno realmente forte.

Surpreendentemente, ao invés de repreender a jovem e revoltada nora, “seu” Milad disse, naquele português rebuscado e com um leve sotaque árabe:

― Eu tenho exatamente o que você precisa, “iá habiba”. Um veneno muito “botente”, feito de ervas que eu trouxe da Síria. Não tem sabor e não deixa rastros na corrente sanguínea. Todavia, mata muito lentamente que é para não se levantarem suspeitas. A “bessoa” que o tomar diariamente misturado na comida, sentir-se-á forte num primeiro momento e depois, paulatinamente, há de ficar cada vez mais fraca, simulando uma doença séria, para a qual não há diagnóstico. Vai chegar o dia em que simplesmente a alegria vai embora e a “bessoa” morre sem acusar o envenenador.

― E eu vou ter que esperar muito? ― perguntou a jovem. Seu Milad sentenciou:

― É “breciso” ter paciência, minha cara, pois o efeito do veneno é acumulativo e só piora com o passar do tempo. Mas, para garantir que ninguém desconfie de ti, trata a tua sogra com respeito, paciência e carinho. Se ela começar uma briga, fica calada e espera o dia em que o veneno vai te dar consolo. Faz as vontades dela e prepara a comida dela todos os dias. Oferece para ela chás, café e refrescos e neles coloca um pouquinho do veneno. “Te faz” de amiga atenciosa e ouve sempre o que ela tem a dizer. Procura resolver problemas para ela. “Te faz” presente e vê todos os dias o veneno fazer o efeito desejado.

A jovem ouviu com atenção e foi para casa com pressa para por em prática o plano arquitetado pelo árabe.

Todos os dias dava atenção à sogra, fazendo-lhe pessoalmente o prato e tratando-a com respeito e carinho dissimulados, para ir colocando sempre na comida dela doses pequenas do veneno dado por “seu” Milad.

E aconteceu como o árabe previra. A sogra passou cerca de cinco meses mais forte do que nunca, até que, entrando no sexto mês, a velha acamou-se com uma doença misteriosa, que lhe deixara febril e com uma forte diarréia.

Ao ver a sogra muito mal, a jovem preocupou-se. Naquele tempo em que tratara a sogra de maneira dissimuladamente carinhosa, aproximara-se dela, conseguindo enxergar o que o rancor não lhe permitia. No fundo, a sogra era uma boa pessoa. As brigas aconteceram simplesmente porque a necessidade de ter que repartir a atenção do filho com outra mulher, mais jovem e exógena, incomodaria qualquer mãe.

Percebendo que já gostava muito da sogra, a jovem se desesperou. Como poderia deixar a mãe de seu marido simplesmente morrer envenenada? Que traição mais cruel, essa que ela planejara! Resolveu procurar o carcamano mais uma vez. Ele haveria de ter um antídoto tão potente quanto o veneno.

Logo que “seu” Milad a viu, foi logo perguntando se a velha já tinha ido para o inferno.

Ela lhe contou o problema. Falou-lhe que a velha esteve mais forte do que nunca durante um tempo e que, de repente, caiu acamada, com febre e disenteria. Disse-lhe do seu arrependimento em querer matar a sogra e suplicou ao árabe que lhe desse um antídoto o mais rápido possível.

O carcamano caiu na gargalhada. Quando se recompôs, segurou as mãos da jovem e disse olhando-lhe nos olhos:

― Minha cara, o veneno estava no teu coração. Aquilo que eu te dei para ser misturado na comida de tua sogra eram vitaminas. O melhor antídoto é o amor e esse eu te ensinei a administrar no dia em que me procuraste. Vai pra casa e faz um chá de olho de goiaba para tua sogra que ela está é com dor de barriga mesmo.

CAIS DO PORTO



Painelzinho feito em azulejo do Cais do Porto, que mandamos editar através de um artista de rua, para não sair do saudosismo.

São momentos que estamos sempre resgatando, para manter a tradição de nossas belezas, para nos distrair e nos proporcionar viagens através dos bons tempos.

Na verdade, estamos construindo idéias, na tentativa de poder oferecer nossa colaboração para os que amam a Princesa do Sul

Tragédia da aviação piauiense, que tirou a vida de Raimundinho Caboré

O aeroporto de Cangapara era pequeno para o intenso movimento de aviões que nele pousavam e decolavam no ano de 1964 e, mais intensamente, e...