1/09/2024

O brilho do Porto

 

"O POR DO SOL é lá no cais; eu vejo a lua, surgindo atrás da torre... do cais".

Esse é o trecho inicial da linda canção do grupo VIAZUL, que fez sucesso nas décadas de setenta e oitenta e que traduz a beleza e a poesia do cais, o ponto de encontro mais aconchegante da cidade.

O Flutuante, ali, impecável e manso, mantendo um prazer tradicional de várias décadas e gerações. O Parnaiba, caudaloso, inspirando poetas e itinerantes. Vejo à noite, reluzente, a bela Barão, espelhada nas águas do rio. Mas já não existem mais os antigos pontões e canoas à vela. O progresso nos trouxe as pontes, lanchas e motores. As balsas e as regatas de julho perderam-se no tempo. E por onde andam os pescadores?

O tempo passou. O futuro chegou como que sorrateiro. Não se escuta mais os borás. Os trios elétricos já habitam em nossos carnavais. Os foliões, agora, são outros. Plantaram-se novas árvores e pontos turísticos. Os jets-skis, fazendo suas manobras radicais. A Maria Bonita agora é um belo museu. Os novos cantos são baianos. As bicicletas agora são de marchas e já não existe mais o bar de nosso amigo Passim. Os meninos recolheram-se aos games, não tiram mais saltos mortais e já não descem o rio. Os remansos desapareceram. O cais do porto absorve outras naves e concorrentes. A poesia mudou e a burguesia sumiu.

Saudoso, chego ali de mansinho a sondar a nova paisagem. Soturno, ando a passos lentos e solitários à procura de um tempo em que não volta mais. No entanto, o conforto da minha presença ali satisfaz o meu ego. E os tambores, que ouço na madrugada lenta e fria, são os únicos companheiros que trafegam por ali ecoando noite a dentro a compartilhar de meus pensamentos em busca de um novo tempo.

Se viver, verei!

1/08/2024

DJALMA SILVA E SUAS MEMÓRIAS


 Carnaval

 (na foto acima, o senhor João de Deus Alves pai do Cronista, que tocava Piston)

O mais longe que a minha memória alcança vejo Floriano nos vórtices de Rei Momo. Nos primeiros tempos o Zé Pereira, no sábado, anunciando o período de brincadeira. Homens fantasiados burlescamente, montados em jumentos, andando pelas ruas  cantando:

Viva o Zé Pereira!

Viva o Carnaval!

Viva a brincadeira

Que a ninguém faz mal.

Domingo era o dia do Entrudo. Banho de água nos amigos e vizinhos. Cabacinhas de líquido volátil colorido atiradas nos incautos, manchando-lhes momentaneamente as roupas, provocando sustos ou iras que logo se desfaziam . Jatos de água ou mesmo de lama, sugada nas poças por repuxos de bambu ou de folhas de flandres atirados contra as pessoas. Uma farra.

Era corrente na cidade que todos os anos nesse domingo o senhor Dico Leão ia dar o banho de entrudo no senhor  João Matos seu vizinho.

Nos três dias à tardezinha havia o corso. Os poucos automóveis então existentes conduzindo seus donos, familiares e amigos, capotas arreadas, saiam da Praça da Igreja, desciam a rua São Pedro até a Praça do Mercado, passavam pela rua Silva Jardim e subiam à Avenida Álvaro Mendes. Isto muitas vezes até o escurecer. Durante o curso confetes eram jogados , serpentinas atiradas. O povo postado nas ruas e concentrado na praça de tudo participando com alegria.

Os bailes a fantasias completavam cada dia da festa tradicional. Bailes na casa do senhor João José Ribeiro a princípio, mais tarde na residência do senhor Antonio Anísio Ribeiro Gonçalves. Estes para a chamada elite. Os operários dançavam  na sede da União Artística Operária Florianense e alguns anos os seus bailes chegaram a acontecer na residência Sebastião Araújo, à rua São João. Nesses bailes  a tônica era a alegria contagiante expressa nas danças ,nos cordões que circulavam pelas salas, os foliões estimulados pelas músicas eletrizantes que todos sabiam cantar dos carnavais passados com no a do em curso pelo ritmo da s orquestras todas locais, pelos lança perfumes não proibidos e largamente usados de modo a impregnar o ar com suas emanações.

Em meados os anos trinta, possivelmente em 1935, se não me falha a memória, surgiu um bloco de rua famoso, “Os Amantes da Arte”. Criado por inspiração de José Dutra, grande incentivador da arte musical em Floriano e por ele dirigido, saiu dois anos consecutivos, percorrendo as residências mais importantes da cidade, brincando com muita harmonia e animação. Nesses dois anos usou fantasias de “pierrot”. Calças e blusas vermelhas no primeiro ano e calças brancas e blusa preta no segundo. A Porta Estandarte era a jovem “Tintô Paixão”.Para registro, cito aqui os nomes dos demais integrantes musicais que tocavam: José Dutra, violino; Arudá Bucar, flauta; Eugênio Pereira, trombone; João Mrtins, saxofone; Nestor Coelho, saxofone; Sebastião Araújo, contra-baixo; João de Deus Alves (meu pai), piston; Zezinho Rocha, saxofone; Francisco Paixão, violão; José Cairara, banjo; Otacílio Paixão, violão; Antonio de Passos Freitas, cavaquinho; Jonas Araújo, cavaquinho; Odali Paixão, cavaquinho; Genésio, cavaquinho; Michel Demes, maracá; Olívio Paixão, pandeiro; Francisco Dantas, pandeiro.

Com a Fundação do Floriano Clube, o carnaval passou a se restringir mais a ele. O da elite, pois o dos operários continuou na União. Todavia, blocos de rua ainda marcaram sua presença na cidade. Rafael Rocha, em crônica reminiscência publicada em Jornal de Floriano número 367, fala dos Águias, das Baianas do Arudá.  E Luís Pinto de Oliveira, memória viva da cidade, fez-me recordar dos Bambas da Folia que ele e outros elementos da União fizeram e mantiveram por muitos anos.

Fonte: Jornal de Floriano


1/04/2024

Tempo de Papagaios


Fonte: Dácio Melo

Eu nunca fui bom de papagaio. Quando os ventos gerais chegavam, todo mundo corria à procura dos artesãos, dos craques na feitura dos surus, lanciadores, curicas, surus de besouro nas mais variadas cores.

Me lembro bem do Tete e do Cebola. Embora não sendo bom na empina, sempre estava participando da brincadeira. Segurando o papagaio pra levantada de vôo, passando o cerol na linha e depois me juntar a turma na expectativa da queda bonita de alguns surus cortados.

Na ânsia de comer linha, varávamos cercas de quintas e quintais sem respeitar nada. Lembro-me bem, ali nas imediações da galeria abaixo da rua do fogo, o suru tinha caído no quintal dum carroceiro muito brabo, nós pulamos a cerca afobados pra comer linha e o dono da casa correu pra ver que zoada era aquela no seu quintal. Foi olhar pra nós e gritar bem alto, com raiva, "me traz o facão aí, muié, ligeiro!".

Rapaz, nunca vi nêgo pular cerca de arame tão depressa como naquele dia! Nós correndo apavorados e o negão gritando da cerca, “espera aí seu bando de feladaputa, vou capar um por um!”

 Só fomos parar, quando sentamos na calçada de seu Benedito, na nossa rua (José Coriolano com João Chico), tamanho era o pavor!

 Quando recuperamos o fôlego, a risada foi geral. Passei um bom tempo sem passar na galeria.

CARNAVAL FLORIANENSE - Os Piratas de Antonio Sobrinho

 

(Fotografia do Bloco OS PIRATAS no carnaval de 1957 - Antonio Sobrinho, Clóvis Ramos, Expedito Leal, Adauto Perna de Gato, Pedro Atem, Vicente da Mangueira e uma Legião de amigos)

ENSAIOS: PRÍIIIIII, PRÍIIII - os treinamentos aconteciam na residência de Antonio Sobrinho, mais conhecido como “Decente”, na avenida Eurípides de Aguiar ( hoje funciona uma capotaria ), ficava no centro da sala, com uma prancheta na mão e um apito na boca, comandando os ensaios, gesticulava muito, era só príiiiii pra lá, priííí pra cá, ouvido apurado, percepção, conhecimento, sabia quem estava tocando errado e com um olhar orientava o companheiro para se enquadrar.

MARACÁ DE “H” SEM PEDRAS - tinha os que queriam brincar, mas não conseguiam acompanhar o ritmo, pois o grupo entendia do riscado, afinadíssimo, mas não tinha problema, “Decente” arrumava um jeito: pegava o maracá, tirava as pedras e falava – agora, faça sucesso “homi”, arrebenta. O componente ficava só fazendo o agá, como que estivesse batendo e, com o dedo polegar em sinal de positivo, “Decente”, aliviado, deixava o folião feliz. É mole! Já existia isso! Caramba! Deixa pra lá!

ESQUENTANDOS OS TAMBORINS – havia um detalhe importante e curioso nos ensaios. Como os tambores eram de couro de cobra, bode, boi e outros animais, os foliões, muito exigentes e querendo fazer uma bonita exibição, acendiam várias fogueiras para esquentar e afinar o som dos tamborins, tambores, um espetáculo a parte.

ESTANDARTE - Antonio Sobrinho foi um dos maiores carnavalescos do Carnaval de Floriano dos anos 50/60, período romântico, com o seu bloco “Os Piratas”. E como folião, alegrou muita vezes o carnaval de rua da Princesa, com os seus sons e batuques, com a sua maneira diferente de dançar conduzindo o Estandarte nas mãos, levando a sério e parecia mestre sala de escola de samba do Rio de Janeiro. Dava show e arrancava muitos aplausos na Avenida Presidente Vargas e nas ruas onde o seu Bloco passava. FANTASIA DIFERENTE TODA DE SEDA - Era gostoso ver as cores da fantasia em seda: a bandana-vermelha usada na cabeça, a blusa-preta com uma caveira cravada no bolso do lado esquerdo, a calça-amarela, o tapa-olho preto em todos componentes do bloco Os Piratas.

MENINO NÃO ENTRA - Nos ensaios os meninos não entravam, os amigos de Júnior: Chico Cangury, Chicolé, Tadeu... pegavam o bigu, para depois dos ensaios a garotada ia guardar os instrumentos, claro imitando os artistas da batucada, fazendo aquela zueira!

IMITAÇÃO DO BLOCO “OS PIRATAS” - Quando terminava o carnaval, Júnior, César ( era pequeno ), Chico Cangury, Chicolé e outros colegas nossos, pegavam alguns instrumentos, pedaços de ferro, madeira, latas, panelas de alumínio, tudo que pudesse emitir som, formavam o nosso bloco e saia rua acima e rua abaixo, puxando o ritmo de samba e éramos, até, aplaudidos.

MÚSICAS INESQUECÍVEIS: Maracangalha, O Que Estou Aqui Na Terra, Vem Chegando A Madrugada, Madalena, Tenha Pena De Mim, Recordar É Viver.

JERUMENHA NO SÁBADO DE CARNAVAL – Várias vezes o bloco “Os Piratas” foram convidados para brincar o carnaval na cidade Jerumenha, sempre aos sábados. A viagem era feita de caminhão e o bloco era aguardado por uma multidão!

VISITAS AGUARDADAS COMO TROFÉUS - Às 15 horas “Os Piratas” iam visitar e alegrar as residências da sociedade: Tiago Roque, Sólon Miranda, Edmundo Gonçalves, Mestre EuGênio, Arudá Bucar, Fauzer Bucar, pai da Cordélia ( Juiz ). Antonio Anísio Ribeiro Gonçalves, Bernardino Viana.

MOMENTO MÁGICO! INIMITÁVEL!

ENCONTROS DE GIGANTES - no final da tarde o desfile dos blocos na avenida Getúlio Vargas e praça doutor Sebastião Martins, no centro de Floriano. Um momento de rara beleza! O encontro de todos os blocos na altura dos bares: São Pedro, Sertã, Churrascaria Carnaúba.

“OS PIRATAS”, componentes sob a batuta do líder e fundador Antonio Sobrinho ( maior mestre do Estandarte, segundo o barbeiro Zé Venâncio ) - Clóvis Ramos (mestre do Estandarte, depois comandou o bloco “Os Malandros”), Pedro Atem, Expedito Leal, Adauto Perna de Gato, Arnaldo Pé de Pão, Alcides Garcia “Del Bueno”, Chico Perna Santa, Mário Anselmo, Geraldino, Ieié (Miguel Borges), Pedro Demes, Pedro Neiva, Antonio Pereira Filho, Chico Pereira, Antonio José Boquinha, João Alfredo, José Anésio Batista, Jofran Frejat, Bernardino Feitosa ( Seu Dino ), José Soares da Pernambucana, Engrácio Neto, Luis Paraibano, Vicente Rodrigues de Araújo ( participou com apenas 14 anos na época, hoje comandando a Escola de Samba Mangueira ).


Depois que Antonio Sobrinho, o famoso “DECENTE” cansou de brincar com Os Piratas, ele adquiriu um Jeep, e nos carnavais colocava a moçada no veículo e participava do desfile de carros fazendo o percurso ( corso ) na avenida Getúlio Vargas, Praça Dr. Sebastião Martins, Av. Eurípedes de Aguiar, com a moçada esguichando com seringas coloridas água nas pessoas complementavam a beleza do evento arremessando serpentinas e confetes na multidão, que recebiam com aquela alegria estampada no rosto, contagiando a todos!

Fonte: Cesar de Antonio Sobrinho

1/03/2024

CARNAVAL, UMA FESTA SEM DONO

 Jalinson Rodrigues – poeta & jornalista


O carnaval florianense mantém a tradição de crescimento e conquista importância econômicana geração de oportunidade de renda.

O carnaval em Floriano sempre foi frenético, alegre e convidativo. Em todas as épocas conquistou posição de destaque entre as folias do Piauí. Com o passar dos anos se tornou referência para os roteiros de viagens de muitos brasileiros.

A história do carnaval é a saga da alegria. Este período de festas profanas existe desde o mundo cristão medieval. Nos primórdios, iniciava geralmente no dia de Reis e se estendia até a quarta-feira de cinzas, data que começavam os jejuns da Quaresma. Eram manifestações pela liberdade de atitudes críticas e eróticas. Outra origem para o carnaval está há mais de 2000 anos, quando na Europa, no mês de março, era comemorada a chegada de bons tempos para a agricultura. Como festa popular, o carnaval não tem uma origem exclusiva e durante a sua existência passou por muitas inovações.

As primeiras festas com características de carnaval, no Brasil, aconteceram no período colonial e foram chamadas de enduro. Era uma brincadeira grosseira, com a finalidade de atirar baldes d’água, misturas de bebidas, pó de cal e farinha entre os participantes. Este formato de carnaval agressivo estimulou as festas de salão, por volta de 1840, inspiradas nos bailes de mascaras europeus. Neste cenário surgem os confetes, rodelinhas multicores de papel, que atirados entre foliões representavam amabilidade e galanteio. Com a miscigenação étnica e a formação de uma cultura plural, o carnaval no Brasil escreve uma história com diferenças regionais.

Em Floriano, no Piauí, o surgimento do carnaval foi assim também: manifestações de rua, festas privadas, depois bailes em clubes. A expressão carnavalesca do florianense é tão histórica que em 1940 o bloco “Os Águias” participava da festa tocando pelas ruas marchinhas, com percussão e violão. Na década de 1960 o bloco “Os Malandros” teve bastante destaque com seus entrosados passistas e sambistas. Nas décadas seguintes, 70 e 80, foi mantida a efervescência da nossa folia de rua. Os imemoráveis bailes aconteciam no Comércio Esporte Clube, Floriano Clube e, posteriormente, também na AABB. Existia neste período o Bloco dos Sujos, que mesclava algumas características do enduro colonial com o carnaval moderno de flertes e paixões. Era um carnaval tão simples: bastava uma velha camisa, um calção e um tênis “já sambado”. A festa estava feita e o Reino de Momo instalado.

Nesta evolução de ritmos e ritos consumistas, os blocos se transformam em escolas de samba. Atualmente vivemos o carnaval das massas, quando milhares de pessoas ocupam a cidade gerando, assim, o turismo de eventos. A chegada dos blocos, com trios elétricos, difundindo a música baiana “axé music”, nos anos de 1990, trouxe para a nossa festa o folião turista.

O carnaval florianense mantém a tradição de crescimento e conquista importância econômica na geração de oportunidade de renda. São cinco dias de festa na maior tranqüilidade. Neste cenário, o Rio Parnaíba tem fundamental destaque. Possuímos ainda infra-estrutura limitada para uma atividade industrial do carnaval. Na minha singela opinião, as agências governamentais tratam o turismo como uma agenda de eventos e esquecem a qualidade de vida de quem vai chegar e de quem mora no local.

Na trajetória do carnaval daqui, a hospitalidade da cidade é marca registrada. Muitos jovens e famílias de florianenses, que residem em outras cidades, planejam as férias para Floriano no período do carnaval, oportunidade para encontros de gerações.

Contudo, o carnaval é a grande folia popular do florianense. É uma festa sem dono.

Por onde anda o nosso futebol?

 

Time do Ferroviário Atlético Clube dos anos cinquenta, quando havia uma certa empatia dos dirigentes com o esporte local. Período romântico.

Nelson Oliveira, o arqueiro do Ferrim à época, comandava a zaga daquele timaço. Epopéia lírica do esporte da Princesa do Sul, que os anos não trazem mais.

No momento, precisamos reverter o quadro negativo que abate o nosso futebol. Os dirigentes precisam unir as forças para revitalisar o nosso esporte.

Talvez uma cooperativa, ou até vontade própria, alguma iniciativa que possam fazer a diferença. O que não se pode mais admitir são os micos que estamos pagando no contexto atual.

Ainda há tempo de renovar!

Dispersão Poética

 


Há um silêncio, poeta, que te aquece,  quando o Porto nessa brisa te embobece.

ALDÊNIO NUNES - a enciclopédia do rádio florianense

  ALDÊNIO NUNES – A ENCICLOPÉDIA, NUMA ENTREVISTA INIMITÁVEL, MOSTROU POR QUE SEMPRE ESTEVE À FRENTE! Reportagem: César Sobrinho A radiodifu...